5 meses depois das chuvas que devastaram o RS, restaurantes locais ainda sofrem com a tragédia
Os chefs Marcos Livi, dono do Parador Hampel, em São Francisco de Paula, e Marcelo Schambeck, do Capincho, em Porto Alegre, detalham como estão se reerguendo
Daniel Salles
No Dia das Mães deste ano, o hotel Parador Hampel, em São Francisco de Paula, no Rio Grande do Sul, iria sediar um casamento, além de receber 250 pessoas no chamado Ferro e Fogo, evento dedicado ao churrasco que ajudou a dar fama ao empreendimento. No fim, por culpa das chuvas que devastaram o estado, só quatro pessoas estavam no local naquela data — o proprietário, o chef Marcos Livi, a
namorada dele e um casal de hóspedes que não conseguiu ir embora. “Os efeitos da tragédia no nosso segmento são devastadores”, diz Livi, nascido na mesma cidade há 51 anos.
Por estar situado na Serra Gaúcha, o Parador Hampel, inaugurado há 125 anos, saiu ileso dos efeitos físicos dos temporais — enfrentou, no máximo, uma queda de barreira. Mas não das consequências do sumiço dos turistas. Em maio, o faturamento de Livi com o hotel — que também dispõe de um restaurante, o Ana Terra — e o Ferro e Fogo caiu para zero. Em junho, ele conseguiu amealhar 20% do que costumava faturar por mês antes da tragédia e, em julho, 40% — o resultado de agosto ainda não foi calculado. “O turismo atual se restringe ao rodoviário”, resigna-se o chef.

Ele estima que a partir de outubro, quando o Aeroporto Internacional Salgado Filho, em Porto Alegre, deverá ser reaberto, os turistas voltarão a aparecer em maior quantidade. “Acredito, no entanto, que só voltaremos ao patamar anterior de janeiro de 2025 em diante”, afirma. “Quer matar um estado? É só interromper as operações de seu principal aeroporto. Porto Alegre virou cenário de guerra. O turismo de negócios na cidade, por enquanto, acabou”.
Livi é um dos palestrantes confirmados do próximo SindNews, no dia 24/9. Organizado pelo SindRio, o Sindicato de Bares e Restaurantes do Rio de Janeiro, o evento deverá reunir, das 9h às 19h, cerca de 300 pessoas no Exc Rio, no Jockey Club Brasileiro. O gaúcho subirá ao palco ao lado do chef Cristóvão Laruça, dono dos restaurantes Caravela, Fazenda Cervejeira e Mitra, em Belo Horizonte. Os dois vão resumir suas trajetórias empresariais e debater os desafios que enfrentaram até aqui (confira as atualizações sobre a próxima edição do SindNews em sindrio.com.br).
A mediação ficará a cargo de Fernando Blower, o presidente do SindRio. “O Brasil tem dificuldade de olhar a longo prazo”, diz ele, a respeito da tragédia que se abateu sobre o Rio Grande do Sul. “As mudanças climáticas demandam ações que possam amenizar futuras crises ambientais, especialmente em cidades cercadas por grandes quantidades de água, como Porto Alegre e o Rio de Janeiro”. Acrescenta que ainda é cedo para estimar os prejuízos que os bares e os restaurantes gaúchos terão de engolir em função das chuvas. “Além dos estragos estruturais, muitos estabelecimentos ainda não sabem quando vão voltar a contar com as receitas de antes”, resume Blower.
Em Porto Alegre, o Capincho também não sofreu avarias em função das chuvas que viraram o Rio Grande do Sul do avesso. O restaurante se encontra em Moinhos de Vento, um bairro situado em uma parte alta da cidade. O empreendimento do chef Marcelo Schambeck, no entanto, ficou sem água por 21 dias, o que levou ao fechamento por uma semana — o jeito, depois, foi recorrer a bombonas de água. “Maio foi um mês terrível para nós”, recorda Schambeck. “Teve dias em que recebemos três clientes e olhe lá”.

Ele estima que o movimento, hoje em dia, está 35% menor do que o registrado antes da tragédia hídrica. Corresponde aos turistas de negócios que desapareceram de Porto Alegre. “Acredito que a normalidade só virá com a retomada dos eventos corporativos na cidade”, afirma ele, que compara os dias mais duros de maio à pandemia. “Na pandemia, no entanto, o cenário era o mesmo para todo mundo. E foi possível criar novas formas de receita. Com as chuvas, tudo que dava para fazer era esperar as águas do Guaíba baixarem”.

No SindNews, Marcos Livi pretende resumir o drama enfrentado em São Francisco de Paula, mas também falar de seus negócios que vão muito bem, obrigado. Falamos do restaurante Vistta, em Santa Catarina, que também oferece hospedagem, e dos empreendimentos dele localizados em São Paulo. É o caso dos bares Verissimo e Quintana, do restaurante Brique, da pizzaria Napoli Centrale e da hamburgueria FFBurger — algumas marcas têm duas unidades e a maioria das casas se encontra no Brooklin. “Só pretendo abrir novos negócios neste bairro”, diz o chef. “Não há nada melhor do que poder ir a pé de um empreendimento para o outro”. Nos próximos meses, ele pretende abrir mais um bar no mesmo bairro, o GaloVéio.

Recentemente, Livi virou o único sócio de todos os seus estabelecimentos, reunidos no grupo Bah. E passou a dar mais atenção às operações em São Paulo, de onde vem a maior parte do faturamento da holding. “A pandemia trouxe muitas tendências novas que meus negócios na cidade ainda não deram a devida atenção”, justifica. “Antes, os bares ficavam cheios até as 2 horas da manhã; hoje o movimento acaba às 23h. Antes, sexta-feira era o dia de maior faturamento. Com o home office, que leva muita gente a trabalhar fora de São Paulo neste dia, remotamente, terça, quarta e quinta ganharam bem mais importância para o negócio”.



