Colunas

As novidades do Domaine Georges Noëllat

Comandado pelo jovem Maxime Cheurlin, essa casa da Borgonha se mostra em grande fase, com vinhos bastante interessantes

N o atual e competitivo mercado de vinhos, todo produtor precisa de um traço distintivo. Que tal um “câmera lenta”? Nunca tive de aguardar tanto tempo por um produtor quanto por Maxime Cheurlin, o jovem de 25 anos que agora está no comando do agraciado Domaine Georges Noëllat em Vosne-Romanée.

Jason Haynes, da loja especializada em Borgonha Flint Wines  em Londres (ele é casado com uma das descendentes da família Gouges), decidiu instituir todo mês de março uma “Semana de Borgonha”, destinada aos amantes britânicos do vinho, realizando masterclasses, jantares e degustações. Em junho, ele promoveu uma versão reduzida do evento. A estrela do show era o jovem Maxime. O plano era que em uma noite ele recepcionaria os convidados para um jantar e, no dia seguinte, realizaria uma degustação para as figuras do mercado,  seguida de almoço. Tudo no novo restaurante La Cabotte, com foco em vinhos da Borgonha, no distrito financeiro de Londres. (A carta de vinhos do La Cabotte tem muitas opções de vinhos maduros.)

Continua após o anúncio

Cheguei lá antes das 11 horas, um pouco mais cedo que o previsto, como tem acontecido desde que me mudei para novo endereço no centro de Londres e ainda não recalibrei os novos tempos de viagem. Maxime aparentemente tinha sido convocado para as 10 horas para checar os vinhos, mas até aquela hora não havia nenhum sinal dele. Jason contou que no dia anterior tinham pedido para ele chegar às 15h30, mas ele só apareceu às 21 horas. Isso não era um bom presságio.

Ao meio-dia, todos os participantes haviam chegado, e uma dúzia de nós, do mercado de vinhos de Londres e jornalistas, já estávamos ocupados degustando as amostras de 2015 de Maxime. Até então não havia rastro dele, apesar de estar hospedado a apenas um quarteirão do La Cabotte. Jason, lamentando, observou que um jovem rapaz solteiro em uma rara viagem a Londres provavelmente não teria ido dormir imediatamente depois do jantar degustação. Assim, segundo Jason, tudo indicava que Maxime ainda estivesse dormindo por causa das aventuras na noite anterior. Uma de minhas colegas degustadoras, uma jovem compradora de vinhos, ficou visivelmente chocada com a ideia de que alguém ainda pudesse estar dormindo às 11h30 e pediu que Jason telefonasse para Maxime e o acordasse.

Finalmente, às 12h04, aparece um jovem corpulento, com olhar sonolento, vestindo um jeans caindo do quadril e uma camisa aberta sobre a camiseta, que circula pelo salão um pouco constrangido até que todos sentamos para comer um jambon persillé e barriga de porco.

Sentei-me em frente a ele e fiquei imaginando como aquela pessoa cujo calendário pessoal parecia ser, devemos dizer, tão relaxado pudesse ter uma fala tão rápida, um palavrório quase impossível de compreender.

Maxime tem a sua disposição 11 hectares de vinhedos, a maioria de primeira categoria, sendo a metade deles parte original do Domaine Georges Noëllat, todos situados em Vosne

Ele de fato tem uma história extraordinária e devo dizer que realmente gostei muito, muito mesmo, de provar seus vinhos. O objetivo da degustação era mostrar os vinhos de Maxime de 2015 para os principais clientes da Flint – mais de cinco meses depois que os importadores de Borgonha, de Londres, tinham exibido a maioria dos vinhos dessa safra –, como de costume, logo no começo de janeiro. Jason tem acompanhado os vinhos dessa vinícola desde a primeira safra de Maxime, de 2010. Ele explicou bastante irritado que “2015 foi a primeira safra em que tivemos um problema. Recebemos os preços em janeiro, mas ainda estamos esperando para saber a quantidade de caixas que teremos para vender”. Maxime não agradou a Jason ao escolher ir a Hong Kong a convite de seus dinâmicos importadores de lá, a Pearl of Burgundy, em vez de conduzir a degustação de Borgonha da Flint em Londres, em janeiro passado.

Mas Maxime, claro, está por cima, e tudo indica que ele sabe disso. Os Borgonha nunca foram tão desejados (como indicam as recentes e impressionantes altas de preço), e as joias da coroa da Côte d’Or, segundo os olhos da maioria dos compradores, estão nos vinhos da Côte de Nuits e, mais especificamente, os produzidos em Vosne-Romanée e cercanias.

Maxime tem a sua disposição 11 hectares de vinhedos, a maioria de primeira categoria, sendo a metade deles parte original do Domaine Georges Noëllat, todos situados em Vosne, incluindo três Premier Crus, dos quais Beaumont é a estrela, além das holdings nos Grand Crus Échezeaux e Grands Échezeaux. Qualquer um que costuma dirigir ao redor do vilarejo está familiarizado com a casa de dois andares ocupada pela prefeitura, vizinha às adegas dramaticamente ampliadas de Sylvain Cathiard, com letras gigantes em uma parede soletrando o nome Georges Noëllat. O falecido Georges era sobrinho de Charles Noëllat, cujo domaine fora adquirido por Lalou Bize-Leroy, em 1988, com uma mãozinha de seus importadores japoneses, e constituiu a base do mundialmente famoso (ainda que pouco degustado) Domaine Leroy.

De 1990 a 2009, a produção do Domaine Georges Noëllat foi vendida a negociantes, em grande parte a Jadot e Drouhin, enquanto o domaine era administrado pela avó de Maxime, que se casou com Noëllat de Champagne, no extremo sul da região. Maxime é um champenois de nascimento, e sua irmã ainda mora em Champagne. Mas, de alguma forma, sua avó deve ter ficado tão impressionada com o potencial enológico do neto de 18 anos com os Borgonha, que decidiu deixar a safra de 2010 inteiramente em suas mãos.

Também não deve fazer mal o fato de ele fazer parte da grande dinastia de Henri Jayer e de ser parente do sobrinho do “papa” Emmanuel Rouget com quem ele fez um estágio, da mesma forma que no Domaine Gros Frère et Soeur, em 2009. Maxime colocou de vez suas raízes na Borgonha ao estudar enologia no Lycée Viticole de Beaune.

Não demorou muito para atrair a atenção e, com base nas primeiras safras, ele ganhou reputação pela delicadeza dos vinhos. Mas, depois de ter provado mais de uma dúzia de seus 2015 e todos os seus Vosne Beaumont, eu diria que “leveza do toque” é uma descrição mais precisa. A partir de 2014, seus vinhos, geralmente vinificados sem os engaços e com até 100% de carvalho novo, mas não marcados por ele, parecem se caracterizar por uma encantadora amplitude, com frutas realmente redondas na boca, precedidas por aromas leves e sápidos. De fato, Maxime demonstra com clareza o estilo reconhecível de seu domaine, o qual, nessa fase inicial, revelou-se de forma mais evidente do que a assinatura dos diferentes terroirs – embora isso presumidamente aumentasse com o tempo.

Seu Grand Cru Échezeaux 2015 foi o vinho mais emocionante do painel e ofuscou seus Grands Echezeaux. Maxime não pareceu surpreso com essa observação. Pelo menos, acho que o que ele disse significou concordância geral.

Seu Bourgogne Rouge 2015 básico já era completamente delicioso e parecia ser um bom negócio ao preço de 95 libras (a caixa com seis garrafas), cobrado pela Flint no mercado futuro. Espero que, quando vocês estiverem lendo essa informação, Jason Haynes já saiba quantas garrafas ele terá para vender.

Leia mais sobre o assunto e sobre notas de degustação em JancisRobinson.com

Mostrar mais

Artigos relacionados

Leia também
Fechar
Botão Voltar ao topo