O que os azeites italianos têm a oferecer?
Repletos de complexidade, aroma e sabor, os azeites italianos merecem um espaço em sua despensa
Ao passear entre as gôndolas de supermercados, note quantos rótulos de azeite italiano temos à disposição. Apesar de a Itália ser o segundo maior produtor de azeites do mundo, ficando atrás apenas da Espanha, são poucos os rótulos daquele país que chegam ao Brasil, em comparação às muitas opções da Península Ibérica. “Vejo que os azeites italianos ainda são pouco explorados por aqui, embora apresentem muita qualidade e diversidade, com características que merecem ser conhecidas”, diz Ricardo Castanho, jornalista e sommelier de azeites pela Aicoo (Associazione Italiana Conoscere l’Olio d’Oliva).
Pensando nisso, a Câmara Ítalo-brasileira de Comércio, Indústria e Agricultura de São Paulo (Italcam) promoveu uma degustação às cegas de azeites. A aula on-line marcou a estreia de uma série de ações, cujo objetivo é divulgar produtos D.O.P e I.G.P italianos.

Como identificar um bom azeite
Conduzida por Castanho, a degustação contemplou três azeites europeus. Não foram reveladas, no entanto, as marcas dos produtos. “A ideia é apresentar características de um azeite extravirgem de qualidade”, afirmou.
Assim, antes da experiência, o especialista frisou quais elementos sensoriais são importantes para identificar um bom azeite. A começar pela cor, Ricardo conta que ela não é referencial de qualidade, sendo determinada apenas por fatores como cultivar, maturação das azeitonas e filtragem.
Resta, portanto, à análise sensorial identificar tais atributos. No nariz, o azeite deve ser frutado, podendo apresentar notas de grama cortada, folhas, ervas e especiarias; ou ainda de frutos verdes maduros, como tomate, banana e maçã. Caso sejam identificados aromas de ranço, vinagre ou acetona, significa que há defeitos no produto.
Já no paladar, ao degustá-lo puro, é preciso perceber amargor e picância. “Para que um azeite extravirgem seja considerado de alta qualidade, é desejável que apresente um equilíbrio de intensidade entre o conjunto de aromas, o amargor e a picância”, disse Ricardo.
No entanto, como a maioria dos consumidores não tem a chance de fazer tal análise sensorial, o sommelier sugere optar pelos azeites mais frescos, atentando-se à data da safra e envase, sendo que a ideal é de até um ano. Além disso, depois de aberto, o melhor é degustá-lo rapidamente, em no máximo 40 dias.
Enfim, a degustação
Segundo Castanho, o primeiro azeite oferecido aos participantes é europeu e bastante comum em mercados brasileiros. De cor amarela de média intensidade, porém, tem pouco a oferecer. Apresenta inúmeros defeitos, como toque de salmoura no nariz. Em boca, tem amargor e pouca picância, além de um sabor bastante desagradável. “Tivemos o cuidado de selecionar um azeite extravirgem que nunca foi reprovado em análises físico-químicas.” Esta amostra, no entanto, serviu de comparativo para as análises que viriam a seguir.
O segundo produto, desta vez um azeite italiano, não trouxe qualquer defeito. O verde no aroma é bastante evidente, com notas de folha (rúcula, tomate verde e folha de oliveira); enquanto em boca tem suavidade que vem do caráter de oleaginosas (amêndoa, macadâmia e pinoli). É um dos bons azeites italianos, da região da Ligúria, de média intensidade.
Foi da Sicília que chegou a terceira amostra, a mais complexa da rodada. De cor menos dourada que os demais, este azeite italiano tem notas intensas de verdura, couve, tomate verde e maçã verde no final. Em boca, também foi o mais intenso, com amargor e picância marcantes.
Características únicas
A degustação sensorial provou a peculiaridade que a Itália tem de elaborar azeites de altíssima qualidade, com boa diversidade de sensações. Devido à antiga cultura de oliveiras no atual território italiano, aos estudos e a experiências durante o Império Romano, é ali que se encontra a maior biodiversidade de oliveiras do mundo. “Dessa maneira, os azeites italianos detêm o mais rico leque de perfis sensoriais e agrupam o maior número de certificações D.O.P e I.G.P da União Europeia”, diz Ricardo.
Mas é no Sul da Itália onde está a maior produção do país, representando 80% do volume total. Sobre o consumo per capita, a Itália é o terceiro maior consumidor, com 12,5 litros ao ano. “Além disso, em 2019, o país produziu 365 mil toneladas”, afirma o sommelier.
Em relação ao Brasil, ele lamenta que ainda falte valorização de azeites de qualidade. “O brasileiro não tem o costume de levar o azeite da cozinha para a sala de jantar, exceto para usar em pizzas e saladas”, diz. “Mas espero que possamos entender melhor a importância e complexidade desse produto milenar.”