A elegância do champanhe
Instalada em Urville, na Côte des Bar, a casa Drappier elabora champanhes desde 1808. Sua fama de champanhe elegante tem acompanhado a marca no decorrer desses 200 anos. O general francês Charles de Gaulle era um de seus fiéis apreciadores e, como com isso ajudou a divulgar a marca, foi homenageado pela empresa com um rótulo que leva seu nome.
Se o terroir é um dos pontos principais da produção de vinhos de qualidade, na Drappier isso é ainda mais especial, já que seus vinhedos foram plantados pelos romanos, por volta do ano 1 d.C. Além disso, foi um dos primeiros a se beneficiar dos cuidados dos monges cistercienses da Abadia de Clairvaux. “Alguns registros garantem que, seguramente, São Bernardo participou da construção de nossas bodegas, no século XII”, conta Michel Drappier, produtor da marca e membro da oitava geração da família.
Outro diferencial da Drappier, é que de seus 40 hectares plantados em Urville, a Pinot Noir responde por 70%. O restante é dividido em partes iguais pela Chardonnay e pela Pinot Meunier. Isso explica a cor mais acentuada, com notas rosadas, dos champanhes da casa. Outro diferencial é que a casa é a única a fazer a primeira fermentação da bebida nas garrafas e não em tanques de inox. “Isso garante mais frescor, persistência do perlage e elegância”, garante Michel, que concedeu a seguinte entrevista para Prazeres da Mesa.
Prazeres da Mesa – Atualmente, é impossível entrevistar um produtor de vinhos e não perguntar sobre o aquecimento global. De que forma isso está afetando a região de Champanhe?
Michel Drappier – O Aquecimento global não é um problema para a região de Champanhe. É até o contrário. Em média, a cada três anos, tinha-se uma safra especial. Agora, estamos fazendo todas as safras parecidas e, claro, melhores. O calor maior é favorável ao blend, à maturação das uvas. Pode ser que tenhamos problemas daqui a 50 anos, mas agora não. Os ingleses é que estão pensando que vão conseguir fazer bons espumantes. Não acredito.
Mas gigantes como a Roederer estão procurando terras na Inglaterra para a produção de uvas.
Mas isso não é uma fuga por causa do aquecimento global. A Roederer faz espumantes em várias partes do mundo. O que eles querem é diversificar e oferecer diferentes produtos ao consumidor. A Inglaterra tem uma proximidade com Champagne, principalmente no que diz respeito ao solo calcário. Já os microclimas são diferentes.
Mas os ingleses garantem que vão fazer bons vinhos espumantes.
Tem muito patriotismo nessa fala. Eles adorariam afirmar que têm um espumante nacional de qualidade. Seus vinhos-base até que são bons, mas quando o assunto é o andar de cima, estão muito longe do nível de nossos grandes champanhes.
Pensa em produzir em outras regiões vinícolas?
Faço parte de um conselho na Nova Zelândia, mas é só isso. Estou enraizado com minha família em Champagne. Amo a região e a bebida, tanto que tomo uma taça todos os dias.
E, em que pé estão as tentativas de se aumentar a área permitida para se fazer Champanhe?
Essa é uma decisão que passa pela legislação da região, mas também da União Européia. Estamos conseguindo a autorização para aumentar a área de Champagne, mas queremos fazer isso com calma, sem riscos para a qualidade da bebida. Para aumentar a área porém, existe uma barganha que precisa ser feita. A União Européia vai gerenciar o processo e um dos primeiros passos será convencer os produtores que fazem vinhos de baixa qualidade a diminuir sua produção ou até mudar de cultura, permitindo, por sua vez, que a Champagne aumente a sua. Isso não é tarefa fácil. Ninguém quer perder espaço.
Hoje, são 300 hectares autorizados. Esse número deve aumentar para quanto?
A região deve ganhar 200 novos hectares. Foram definidos 40 novos vilarejos para a produção da bebida. Mas vale ressaltar que, mesmo com esse número, a produção de champanhe só deve ser normalizada daqui a dez anos. Se o consumo continuar nesse ritmo de crescimento, em pouco tempo, pode faltar champanhe no mercado.
E isso é o suficiente para atender à demanda?
Esses 40 já estão dando uma confusão danada, porque quem não foi contemplado está chiando bastante. Além disso, os preços dispararam de forma absurda. Para se ter idéia, 1 hectare destinado a plantação de trigo não sai por mais do que 5.000 euros. O mesmo tamanho de terra para um vinhedo está cotado em 800.000 euros. Um vinhedo plantado não sai por menos de 1.300.000 euros. Uma fortuna.
Mas como essas 40 foram escolhidas?
Nada foi por acaso, essas áreas possuíam vinhedos no século XVIII, ideais para as uvas que fazem o champanhe. Na época da Revolução Francesa, a Champagne tinha cerca de 55.000 hectares plantados com uvas. Hoje são 33.000. A produção era de 11 hectolitros por hectare contra os 60 hectolitros atuais. Ou seja, reduziram a área, mas aumentaram a produção. As técnicas eram diferentes. Mas repito, os vinhos elaborados com uvas desses novos vinhedos só devem chegar ao mercado em 2020, se não tivermos nenhum contratempo. O mercado cresce 5% ao ano e a produção apenas 2%. Algumas casas possuem estoque, mas o medo é que algumas baixem a qualidade para suprir o mercado, o que afetaria a fama e o prestigio da bebida. No caso da Drappier, estamos recusando novos clientes.
O blend é a parte mais importante do processo de elaboração?
Não. Depende do champanhe que se quer. Para o brut normal, onde aparece o estilo da casa, o blend é a etapa mais importante. Esse é o caso do nosso Carte-D’or. Para os grandes champanhes e para os safrados, é preciso encontrar o terroir perfeito, a cuba perfeita. Nosso brut Nature, por exemplo, vem essencialmente de uvas de uma pequena parcela, com baixos rendimentos e que resultam em apenas três cubas. Já o Grande Sendrée (top de gama da casa) é vinificado cada casta em separado e em pequenas barricas.
Como se chega ao blend perfeito?
É fundamental que apenas uma pessoa seja a responsável pelo blend, caso contrário, nunca se consegue chegar ao estilo da casa.
Quais as outras vantagens do blend?
No século XII, os monges já faziam o blend. Usavam as características das uvas plantadas ao Sul ou ao Norte para se chegar à mistura ideal. As opções com o blend são muitas. Melhor acidez, mais fruta, corpo e complexidade. Fica mais fácil escolher as uvas, até pela posição dos vinhedos.
Quais são as suas combinações perfeitas com a bebida?
A Carte-D’or pode acompanhar toda uma refeição. Já o restante de nossa linha é mais variada, mas, em geral, o Nature vai bem como aperitivo e casa bem com o queijo de cabra. Não é ideal para finalizar a refeição, por sua acidez mais alta. Já o Grande Sendrée se basta a si mesmo. Pode ser bebido sozinho em todas as ocasiões. Gosto do rosé com carne de cordeiro ou com sobremesas. O leitor também pode experimentá-lo com frutas secas. Uma combinação muito interessante.
Você acredita que possa surgir alguma outra bebida com o mesmo glamour do champanhe?
Jamais. São mais de 300 anos de história, ele é e continuará sendo a bebida mais elegante e festiva.
Os champanhes Drappier
Ingredientes
- Carte-D’or – Bastante fresco e aromático, com acidez muito bem equilibrada. Na boca, é cremoso, longo e gostoso. Elaborado 70% com Pinot Noir, o que lhe confere uma cor mais para o rosado.
- Brut Nature Zero Dosage – Elaborado apenas com Pinot Noir, é um dos poucos do mercado que não recebe o licor de expedição, o que o deixa completamente seco.
- La Grande Sendrée – Um dos melhores champanhes do mercado, elaborado com uvas provenientes de vinhedos com mais de 70 anos. A Chardonnay entra com 55% de sua composição ficando o restante com a Pinot Noir. Repousa nas adegas durante seis anos antes de ser colocado à venda. A garrafa utilizada é uma reprodução de uma botelha que a casa utiliza desde o século XVIII.
- Charles de Gaulle – Homenagem ao general De Gaulle, um apaixonado pela marca. Leva 80% de Pinot Noir e 20% de Chardonnay. A marca é sempre safrada.