NotíciasReportagens

Chefs de Origem in loco

Saiba o que rolou na estreia do movimento do Sebrae que aproxima biomas e a gastronomia brasileira

O Sebrae Nacional lançou no último dia 22 de outubro, no EXC Rio (Jardim Botânico, RJ), o Chefs de Origem, um movimento que nasce para valorizar alimentos de origem diferenciada, muitos com Indicação Geográfica (IG), e conectar produtores artesanais e de pequena escala à gastronomia de ponta e de qualidade por meio de debates, exposição com venda de produtos e rodada de negócios. O encontro reuniu cerca de 300 participantes entre chefs, produtores e especialistas, com programação que incluiu nomes de peso do cenário brasileiro.

Na abertura institucional, representantes da CNA, Abrasel, Michelin América do Sul e Sebrae reforçaram o papel dos biomas e da cultura alimentar na identidade do país. A parceria com o Guia Michelin mostra o interesse do projeto em fazer a origem brilhar também no prato da alta gastronomia e, com isso, dar visibilidade para quem produz.

A relevância do tema é concreta: o INPI informa que o Brasil chegou a 156 Indicações Geográficas reconhecidas até 28/10/2025, somando 115 Indicações de Procedência e 41 Denominações de Origem, um ativo estratégico para diferenciar produtos e territórios.

Continua após o anúncio

A mesa‑redonda de lançamento teve curadoria editorial do Mundo MESA e foi conduzida pela chef Bel Coelho, que dialogou com sete cozinheiros que trabalham com ingredientes dos principais biomas brasileiros: Saulo Jennings (Amazônia), Diego Badra (Cerrado), Ieda de Matos (Caatinga), Marcos Livi (Pampa), Ariani Malouf (Pantanal), Eudes Assis (Costa Atlântica) e Rodrigo Bellora (Mata Atlântica). O painel destacou o uso dos ingredientes, práticas de compra direta, sazonalidade e valorização de sistemas alimentares locais, uma síntese da missão do Chefs de Origem. 

Como parte da programação do lançamento, Georges Schnyder, diretor executivo do Mundo MESA, conselheiro do Slow Food e embaixador da Università di Scienze Gastronomiche (UNISG), apresentou uma palestra sobre sociobiodiversidade na gastronomia, defendendo a integração entre natureza, cultura e mercado. Em termos de política pública, o conceito de sociobiodiversidade, utilizado pelos ministérios do Meio Ambiente e do Desenvolvimento Agrário, reúne bens e serviços gerados a partir da biodiversidade, que fortalecem cadeias de povos e comunidades tradicionais, com foco em produção sustentável, mercados e organização social.

O tema também dialoga com instrumentos econômicos como a PGPM‑Bio (Política de Garantia de Preços Mínimos para Produtos da Sociobiodiversidade), que hoje contempla 17 produtos extrativistas, reforçando renda e conservação, de açaí e castanha‑do‑Brasil a andiroba e baru. “Assumimos a bandeira de valorizar o chef como embaixador da identidade local, o restaurante como vitrine e o prato como display da cultura”, pontuou Bruno Quick, diretor técnico do Sebrae, ao apresentar o movimento.

Além das conversas, o público circulou por estandes com produtos selecionados de Goiás, Minas Gerais, Rio Grande do Norte, Rio Grande do Sul e Rio de Janeiro, conhecendo laticínios, cajuína, doces, pães e outros alimentos artesanais, com direito a relatos de produtores sobre a chance de virar vitrine para chefs e restaurantes. Em paralelo, o Sebrae estruturou rodadas de negócios para aproximar oferta e demanda e acelerar o acesso ao mercado.

O Sebrae anunciou que, a partir do lançamento do Chefs de Origem, todos os eventos nacionais passam a ser Carbono Zero, com emissões mapeadas e compensadas via créditos do Projeto Corredor dos Senandes – complexo eólico certificado que evita, em média, 110 mil toneladas de CO₂ por ano e promove desenvolvimento local.

O evento terminou com palestra e cozinha‑show do chef Alex Atala, que costurou duas ideias‑força: ética da origem e poder transformador da gastronomia. No fogão, um arroz vermelho com ovo, prato simbólico que celebra ingredientes com IG e a força da simplicidade quando a procedência é protagonista.

Ao legitimar a origem como valor – cultural, ambiental e econômico –, o Chefs de Origem cria ponte entre território e restaurante, fortalecendo pequenos negócios e revelando sabores dos nossos biomas com qualidade e rastreabilidade. Essa visão está alinhada a iniciativas de mercado e políticas (IGs, PGPM‑Bio) e a plataformas de conexão como a Do Brasil à Mesa, vitrine digital do Sebrae com centenas de produtos e empresas de todo o país.

Para a comunidade gastronômica, o recado é claro: cozinhar o Brasil é também desenvolver o Brasil. O Chefs de Origem leva essa agenda adiante com articulação institucional, curadoria qualificada, como a da mesa‑redonda assinada pelo Mundo MESA, e conteúdo formativo, como a palestra de Georges Schnyder sobre sociobiodiversidade. É um passo consistente para transformar ingredientes de origem em oportunidades de futuro. 

 

FOTOS: VINICIUS MARTINS

Mostrar mais

Artigos relacionados

Botão Voltar ao topo