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A onda do vinho natural

Continuando o assunto que tem despertado cada vez mais minha curiosidade, mostro os bons exemplos da França

Os exemplos de grandes produtores “naturebas” são muitos. Casos, como o de Jules Chauvet, considerado o pai do Vinho Natural, enólogo famoso e grande degustador – trabalhou em Beaujolais para La Chapele-de-Guinchay e foi um grande entusiasta das leveduras naturais, da fermentação carbônica e da não adição de anidrido sulfuroso ao vinho. Tem seu amigo Marcel Lapierre, o homem que colocou o Morgon nas melhores cartas de vinho e se tornou um ícone e unanimidade com seu Gamay, até então uma casta desprestigiada, que, com sua maceração semicarbônica e a qualidade de suas uvas e terroir, deixou o mundo boquiaberto e mostrou o que era um vinho natural; ou o ícone Pierre Overnoy em Pupillin no Jura, que rejeitou os produtos químicos na década de 1950 e começou a selecionar suas melhores vinhas de Chardonnay, para em 1984 lançar seu primeiro vinho sem SO2.

Muitos outros nomes fazem parte desse universo, basta lembrar que Jean Pierre Amoreau, do Château Le Puy, que desde 1610 faz vinhos impecáveis em Bordeaux, biodinâmicos, e sem nunca ter usado um produto químico sequer. Pierre Frick na Alsace, outro biodinâmico, que inclusive produz vinhos sem SO2 no engarrafamento, e são vinhos totalmente diferentes. Nicolas Joly, do Clos de La Coulée de Serrant que, desde a década de 1970, também transformou os vinhedos da família no Loire em biodinâmicos e, hoje, é um incansável defensor e divulgador desse modelo de produção. Inclusive, criou o movimento Rennaissance des Appellations, para defender a causa. Zind Humbrecht, as duas famílias Zind e Humbrecht, que são vignerons desde 1620, se uniram em 1959 com seus melhores vinhedos e criaram esse ícone biodinâmico. Tem ainda o Barranco Oscuro, na Espanha, em Granada, que desde sempre nunca viu um produto químico em seus vinhedos, nunca usou SO2 e produz maravilhas. Destacaria ainda o Stefano Bellotti, da Cascina degli Ulivi, com sua inacreditável forma beatnik de resistência e defesa da biodiversidade com seu refúgio biodinâmico e seus vinhos maravilhosos. São muitos e é uma injustiça citar apenas estes.

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Mas o fato é que houve uma espécie de divisão no mundo do vinho, os naturebas (orgânicos, biodinâmicos e naturais), de um lado, e os convencionais de outro. Os convencionais com justa razão se queixam, pois se um vinho é natural, quer dizer que o deles seria artificial? Não, claro que não. Como é fundamental ficar claro também que pelo fato de um vinho ser convencional ou usar leveduras selecionadas (há hoje mais de 300 opções), não quer dizer que ele seja do mal e aplique na cantina todos os 350 produtos da indústria química ou os 400 produtos enológicos. Não podemos generalizar. Mas o fato que não só eu, mas um enorme contingente de pessoas está preferindo vinhos limpos, sinceros, de leveduras indígenas, ou seja, os naturebas, que, além de não fazer mal à saúde, ainda ajudam a preservar o planeta para nossos netos.Assim como disse no artigo anterior, esse mercado é crescente e, hoje, todos os produtores estão olhando para ele. Ou seja, mesmo que por interesse econômico, o ser humano vai salvar o planeta. E para isso nosso papel de formadores de opinião é fundamental. Saúde!

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