Com toda elegância
(*) POR CARLOS CABRAL
Não vou falar da elegância do vinho após uma degustação, mas sim da elegância comportamental no mundo do vinho. Com o crescimento do enoturismo, as vinícolas de todo o mundo têm recebido a cada dia um número maior de turistas, alguns enófilos apaixonados, outros simples curiosos.
Por tradição milenar, o mundo do vinho é elegante, educado e cortês. O vitivinicultor, especialmente quando seu produto leva o nome da família, tenta ser atencioso com as visitas e nunca se cansa de repetir inúmeras vezes a história de seus ancestrais. Com muito orgulho, cita seus antepassados responsáveis pela tradição da casa. Hoje, os enólogos são os profissionais mais requisitados nessas visitas, afinal todos querem conhecer “o pai do vinho”. Em geral, pacientemente o enólogo explica todos os detalhes do processo de elaboração da bebida, e tem muita alegria em apresentar “seu filhote”.
As provas de vinhos, seguidas de refeições ou não, algumas vezes provocam mal-estar quando o visitante, já levemente alterado pelo álcool, passa a dar indiretas sobre a qualidade da bebida. Ou, pior, tem a cara-de-pau de pedir algumas garrafas, porque tem um parente ou amigo que adoraria provar aquele vinho. Outro mais chato ainda é o que pergunta tudo de novo, após uma explicação minuciosa por parte do enólogo ou do guia. Uma vez chamei atenção de um tipo desses e a resposta que ouvi é que ele pagou pelo programa, o que, na sua torta opinião, dava-lhe direito a exigir que repetisse quantas vezes quisesse. Respondi que o pagamento não era motivo para ele ser mal-educado. O fulano não gostou, mas passou a se comportar melhor.
O vinho, por si só, é um produto elegante e merece contemplação, pois dá a quem o prova momentos de alegria, principalmente se é degustado em companhia de amigos, sem nenhum compromisso. Por isso, os representantes dessa indústria são, de modo geral, atenciosos. Tenho na memória momentos inesquecíveis vividos nos quatro cantos do mundo, nos quais a fidalguia se fez presente em todas as ocasiões. Os anfitriões diferenciam logo um enófilo interessado daquele que é um aventureiro ocasional. A cada momento as atenções são renovadas, mesmo nas vinícolas que hoje pertencem a grandes grupos financeiros, há um time treinado de funcionários capacitados a prestar todas as informações pertinentes à história da vinícola e seus produtos.
Para quem pretende visitar uma vinícola, aqui vão alguns conselhos: lembre-se de que você não está em sua casa; não toque em nada; não peça nada; não force uma “doação”; ouça o que os guias e os enólogos estão explicando e, se realmente deseja um vinho que provou, compre-o. Se por ventura visitar um vinhedo, não vá arrancando cachos de uvas e provando, espere que lhe ofereçam. Imagine se cada grupo de turista arrancar um cacho de uva, o que irá acontecer com a produção daquela vinícola.
(*) Carlos Cabral estuda vinhos há 38 anos. É consultor e um apaixonado pelo tema