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Fênix ascendente

Na Inglaterra, o volume total de vendas de Porto básico ainda está em declínio, mas não consigo dizer quão feliz estou com o futuro promissor para o Porto superiorNa Inglaterra, o volume total de vendas de Porto básico ainda está em declínio, mas não consigo dizer quão feliz estou com o futuro promissor para o Porto superior, vinho de longevidade única, cultivado em uma das regiões vinícolas mais extraordinárias do mundo

Há muitos, muitos anos, no início da década de 1990, fui convidada a apresentar um discurso após o jantar da empresa Factory House na cidade do Porto. Foi um ponto de encontro que eu chamaria comércio de Porto. Mas que seus membros, na maioria britânicos expedidores, chamariam de negócios do vinho do Porto. Eu era muito mais jovem na época, e, felizmente, inconsciente de quão inapropriado havia sido meu discurso.

Relatei o baixo consumo de Porto na Inglaterra, o que pareceu surpreender o público presente. Essa era uma época em que os preços de Porto Vintage se mantinham na posição baixa do mercado. E, até mesmo a faculdade de Oxbridge estava descarregando a bons preços seus estoques substanciais de vinho.

O volume total de vendas de Porto básico ainda está em declínio. Porém não consigo dizer quão feliz estou com o futuro promissor para o Porto superior. Um vinho de longevidade única, cultivado em uma das regiões vinícolas mais extraordinárias do mundo.

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Paul Symington é um dos nove primos presentes em duas gerações produzem e vendem rótulos como Graham, Dow, Warre e Cockburn. Ele relatou que, no ano passado, o total de vendas de Porto foi de 3,7 milhões de euros, superior ao ano anterior.

E ressaltou que saudáveis 43% do total das vendas eram de Porto superior. Não eram de Rubi de baixa qualidade, que os franceses gostam de chamar de Porto. Ele admitiu: “Costumávamos ser vistos como os móveis velhos na sala, mas as coisas mudaram para melhor para nós”.

A volta por cima

As duas últimas campanhas de Porto Vintage das safras de 2011 e 2016, lançadas respectivamente no final de abril de 2013 e 2018, foram particularmente bem-sucedidas. Ainda que a quantidade produzida tenha sido relativamente pequena.

Um sintoma mais evidente da recuperação do Porto são os preços dos Vintage no mercado secundário. Parece que a safra de 2007 está sendo negociada pelo dobro do preço original. E o Dow 2011, eleito pela revista americana Wine Spectator como o vinho do ano, viu seu preço triplicar.

“Isso para mim é um indicador fantástico do interesse contínuo em Porto fino”, disse, entusiasmado, Symington. “Conseguimos reinventar o Porto e adaptá-lo ao estilo de vida das pessoas de hoje, para que possamos fazer com que o adorável Vale do Douro continue trabalhando bem.”

Deve ajudar o fato de a cidade do Porto (com nome idêntico ao do vinho) – da qual todo o Porto é exportado e onde a maior parte é amadurecido – ter se transformado em uma cidade completamente moderna e vibrante, com bares de vinho, hotéis modernos e turistas.

As caves de vinho do Porto, antigos armazéns empoeirados e silenciosos, são agora claros e belos centros de visitantes, decorados com objetos antigos glamorosos de diferentes décadas, nas quais muitas degustações e compras acontecem.

E muitos desses turistas agora se perdem no Vale do Douro. Ali, é fonte de todos os vinhos do Porto, à medida que mais e mais vinhos de mesa, de todas as cores, são vendidos com a denominação do Douro. Há cruzeiros e acomodações de diferentes gamas, cuja maioria tem o vinho como tema. A embalagem dos vinhos do Porto também foi aprimorada.

Um fator importante na revitalização das vendas de Porto, por exemplo, foi a glamorização do antigo Porto Tawny. Um total de 77 milhões de euros de Porto Tawny foi vendido no ano passado. Isso representa um aumento de 21 milhões de euros em relação ao ano anterior.

De olho no mercado

Sentada onde estou, do lado que recebe os orgulhosos comunicados de imprensa dos produtores de vinho do mundo, tenho a impressão, às vezes, de que os produtores de Porto estão ocupados percorrendo as fazendas do Vale do Douro e as caves de Vila Nova de Gaia. De que estão rivalizando entre si à procura de tawnies antigos, com uma história venerável que possam ser vendidos por uma fortuna. Isso igualmente em ingredientes para misturas de ótima idade e tawnies antigos, que portanto se qualificam como “colheitas”.

A Fladgate Partnership (proprietária da Taylor, Fonseca e Croft) comprou, em 2013, a Wiese & Krohn, especialistas em tawnies. Agora a Fladgate Partnership está lançando um Tawny de 50 anos por ano. Isso é muito conveniente para presentear pessoas de mais idade.

Os rivais do Symington também têm trabalhado para aperfeiçoar seu portfólio de Tawny. Por isso, lançam misturas especiais para comemorar, como sempre, vários marcos na vida da família real britânica. No início de 2018, Cristiano Van Zeller, da família que possuía a Quinta do Noval, comprou Porto Colheita de 1870 e 1970 para o Last Drop Distillers, especialistas em bebidas de luxo de produção limitada. As garrafas antigas de Colheita parecem estar saindo da obscuridade, muitas delas originárias de empresas de proprietários portugueses.

Em novembro passado, Dirk Niepoort, produtor de vinhos do Douro e do Porto, foi persuadido a despejar um Porto 1863 – que estava envelhecendo nas adegas de sua família luso-holandesa – nos tradicionais “borbulhadores”, ou então em tonéis. Para, em seguida, despejá-lo em grandes bomboneiras de vidro, prática incomum. Assim, produzindo o vinho chamado Garrafeira. Niepoort decidiu exibi-lo em um decantador especial da Lalique, em um armário especialmente projetado para a ocasião.

O kit completo foi então colocado em leilão pela Acker Merrall, em Hong Kong. No início de novembro, as apostas começaram com 98.000 dólares, chegando a 127.000 dólares. Isso seria impensável há 20 anos.

Os desafios do Porto

Mas nem tudo são rosas nos negócios de vinho do Porto. As uvas do Porto são cultivadas em um clima inóspito, em uma paisagem quase desabitada, em declives incrivelmente íngremes. Sua inclinação média de 30% dificulta muito o trabalho dos agricultores, e muitos deles são pouco recompensados por suas dores.

A quantidade de mão de obra local está encolhendo rapidamente. Tanto que, em 2018, foi necessário contratar catadores estrangeiros, muitos deles originários da Europa do leste. Esse fato contraria uma tradição da produção de vinhos: durante décadas, para não dizer séculos. Os viticultores franceses dependeram da mão de obra migrante portuguesa para a produção de seus vinhos.

Os produtores de Porto estão nitidamente preocupados. Quem manterá viva a chama da videira? Existem 43.000 hectares de vinhas no deslumbrante Vale do Douro, a maior área de vinhas de montanha no mundo. E também a única região vinícola em que todas as uvas são colhidas à mão. (Mais de 80% dos mais de 100.000 hectares de vinhedos de Bordeaux são colhidos por colhedores mecânicos.)

Uma máquina especial desenvolvida em Mosel, projetada para colher uvas em encostas íngremes e terraços estreitos, foi testada no Douro nos últimos três anos. Dos 21.400 viticultores do Douro, um terço deles tem mais de 65 anos e quase metade possui menos de meio hectare de vinhas, ou seja, uma área minúscula.

Os preços da uva são decididos por um sistema antiquado e fora de moda e a consequência é forçar muito para baixo o preço daquelas vendidas para vinhos de mesa do Douro. Esse sistema precisa urgentemente ser revisto, para remunerar os agricultores e os expedidores de forma justa e garantir o futuro da região a longo prazo.

Será uma grande pena para todos nós que amamos vinho se não puder ser sustentado o revival do Porto.

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