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Top Ten

(*) POR JORGE CARRARA

A última edição da Expovinis contou novamente com o Concurso Top Ten. Neste ano, concorreram nas dez categorias que dão nome ao certame, 157 amostras de vinhos de expositores que foram degustadas às cegas por um júri internacional. Também, novamente em 2008, o Top Ten se transformou em Top Eleven, já que os tintos nacionais tiveram dois galardões. Vale informar, desculpem se parece óbvio, que esses prêmios são outorgados aos vinhos inscritos no concurso, não significando, necessariamente, que eles sejam os melhores vinhos do evento, onde se servem, talvez, milhares de exemplares. Isso ficou evidente neste ano com os Sauvignon Blanc, um universo de apenas cinco amostras no qual não esteve incluído, por exemplo, e para mencionar apenas um, o delicioso neozelandês Wither Hills 2006 (R$ 121, KMM), que foi lançado na feira.

A seguir, os premiados em cada categoria e alguns vinhos que impressionaram bem nas provas (os disponíveis no mercado têm o preço indicado).

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Espumantes – Foram 15 amostras com nítido destaque para o Grande Sendrée 2000, cuvée prestige da Drappier, uma casa de Aube, sul da região francesa de Champagne. O corte de Pinot Noir e Chardonnay, saboroso, com aqueles deliciosos toques de pão fresco, que teve mais de 80% dos votos para o primeiro lugar (R$ 278, Zahil). Outros Pinot Noir-Chardonnay, mais os nacionais, ficaram bem na foto, como o Valduga Gran Reserva Extra Brut 2002, mesclando fruta e toques de torrefação (R$ 66,76, Valduga) ou o Miolo Millesime 2005, cremoso, com boa fruta (R$ 285, caixa c/ 6 unidades, Miolo).

Sauvignon Blanc – Do quinteto provado (com a minha mais modesta média de notas) três foram chilenos e um deles venceu: o Casas del Bosque Reserva 2007, marcado por grappefruit, leves aspargos e boa acidez (sem preço disponível, Obra Prima).

Chardonnay – Nove exemplares e uma das gratas surpresas do concurso: o Cordilheira de Sant’Ana Reserva Especial 2005, elaborado na Campanha gaúcha pelos enólogos Rosana Wagner e Gladistão Omizzolo. Delicado, o Chardonnay do casal mostrou boa expressão de fruta e toque elegante de madeira e levou o prêmio (R$ 43,15, Enoteca Saint Vin Saint). O Chile marcou pontos novamente com o De Martino Quebrada Seca 2006, encorpado e carregado no carvalho, untuoso e com boa acidez (R$ 97,30, Decanter).

Brancos de outras castas – Entre os seis vinhos brilhou, e foi laureado, o Petaluma 2005, um Riesling australiano oriundo de Clare Valley – área famosa pelos brancos da variedade e os rubros de uvas Shiraz, de aroma e sabor amplo com as notas minerais típicas dessa cepa notável, concentrado e longo (R$ 137, KMM).

Roses – A França dominou o flight com 11 dos 15 exemplares provados, e abocanhou também os louros com o Château de Pourcieux 2007, um Grenache-Syrah-Cinsault da Provence, sul do país, que mescla frutas vermelhas e tropicais de paladar, com bom frescor (R$ 80, Cantu).

Vinhos doces e fortificados – Vitória portuguesa – frente a oito concorrentes – com o Grandjó Late Harvest, um branco doce do Douro, elaborado com uvas Sémillon pela Real Companhia Velha, que lembra um bom Sauternes pelos toques de mel e abricó e o equilíbrio entre o açúcar e a acidez (R$ 83,33, Barrinhas).

Tintos nacionais – Foram 39 vinhos degustados em três levas com dois vencedores em cada uma, que participaram de uma final. O conjunto trouxe boas surpresas. Aliás, é ótimo provar às cegas. Além de ser divertido e nos manter mais alertas a detalhes, ajuda, sobretudo, a cultivar dois pontos fundamentais para um degustador: mente aberta e humildade.

Os seis finalistas – O Miolo Quinta do Seival Cabernet Sauvignon 2005 (da região da Campanha), o Marson Gran Reserva Cabernet Sauvignon 2004 e o Salton Desejo Merlot 2005 (da Serra Gaúcha), dois Cabernet Sauvignon 2006, o Suzin e o Quinta da Neve, ambos de Santa Catarina e o Rio Sol Cabernet-Syrah 2006, de Pernambuco, da vinícola Santa Maria, mostraram a diversidade de goles finos que tem hoje o Brasil. Os vencedores foram o Rio Sol, fruto de uma nova fronteira, rico, com toques de baunilha e alecrim, uma bela amostra rubra (R$ 18,90, Expand) e outro de um canto tradicional, o Marson (R$ 65, Marson) com aroma e sabor que mesclam fruta e especiarias (e lembram o carvalho americano).

Tintos de Castas Bordalesas – Doze participantes e um campeão: o Urano 2006, um Cabernet Sauvignon, da Eral Bravo, adega de ponta de Mendoza, com belos tintos, como este. Ficou perto outro platino, o Zolo Merlot 2005, das Fincas Patagônicas, também de Mendoza.

Tintos do Novo Mundo – O grupo de 24 vinhos alinhou goles da Argentina, Austrália, Chile e Estados Unidos. O confronto consagrou de forma (literalmente) justa, tanto pelo mérito como pela margem de votos, a terra dos cangurus, com o Kilikanoon Covenant 2004, um Shiraz exuberante de Clare Valley, com fruta concentrada, toques florais e paladar sedutor (R$ 235,70, Decanter). Impossível omitir outro candidato ao título, o Viu 1 2004, da chilena Viu Manent, igualmente hedônico e complexo e, sem dúvida (os argentinos que me perdoem), um dos grandes Malbec do Cone Sul (aproximadamente R$ 400, Hannover).

Tintos do Velho Mundo – Pelo menos três dos 23 vinhos mereceram ocupar o pódio. O primeiro, claro, foi o vencedor, o português Quinta Nova Grande Reserva 2005, um Douro de uvas Tinta Roriz, Touriga Nacional e Franca, intenso no aroma e sabor de cerejas e violetas, bem estruturado (R$ 269, Vinea Store). Outro foi o Cumal 2005 do Domínio Dostares, uma jovem adega espanhola com vinhos de tirar o chapéu, como este de uvas Prieto Picudo (variedade ibérica rara) pleno de fruta, com taninos finos e suaves pinceladas de carvalho, de final persistente (R$ 167, garrafa de 500 ml, D’Olivino). Igualmente bom o luso Inevitável 2005, um alentejano da Herdade da Malhada, de uvas Touriga Nacional e Merlot, potente no nariz e na boca, pleno de fruta, com paladar muito frutado e sem arestas (R$ 140, Reloco).

(*) Jorge Carrara é colunista de vinhos do jornal Folha de S. Paulo e do site Basilico

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