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Como mercados com foco na gastronomia ajudam a revitalizar regiões abandonadas; RJ vai ganhar mais 2

A inauguração do Mercado Central do Rio de Janeiro, que irá funcionar numa antiga fábrica da Granado, e a reabertura do Mercadinho São José, em Laranjeiras, que está sendo revitalizado, estão previstas para o segundo semestre

Depois de lançar uma linha de sorvetes em parceria com a Sorvetiño, marca do chef carioca Lucas Mariano, a Granado está prestes a criar laços ainda maiores com o mundo da gastronomia. A perfumaria cedeu uma de suas primeiras fábricas, utilizada por mais de 100 anos, para tirar do papel o Mercado Central do Rio de Janeiro, cuja inauguração está prevista para o início do segundo semestre – a data exata ainda não foi definida.

Foto: Divulgação

Com três andares e 800 metros quadrados, a novidade se encontra entre as ruas do Senado, do Lavradio e a Visconde do Rio Branco. “É uma região com um fluxo de gente muito grande de dia em função das empresas instaladas por lá, sendo que 90% delas já decretaram a volta do trabalho presencial”, diz Larissa Lopes, fundadora e curadora do novo mercado. “O desafio é impulsionar a retomada da vida noturna e das happy hours”.

Organizada sempre aos sábados, das 10h às 19h, a feira do Lavradio, também chamada de Rio Antigo, deverá favorecer o movimento nos finais de semana. Implantado pela prefeitura em 2021, o programa Reviver Centro, que prevê melhorias urbanísticas, culturais, sociais e econômicas para a região, também deverá ajudar. “Estamos bem próximos dos residenciais que serão entregues até 2025”, acrescenta Larissa.

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O Mercado Central do Rio de Janeiro é fruto de um investimento 100% privado cujo valor não foi divulgado – a recuperação da antiga fábrica da Granado não fez uso de mecanismos de incentivo fiscal. A abertura será dividida em duas etapas. A primeira irá abarcar, principalmente, a inauguração de empreendimentos gastronômicos – o grupo Canastra e o Café ao Léu são alguns dos estabelecimentos que já se associaram ao mercado.

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Estrategicamente, a inauguração da maioria das lojas de serviços deverá coincidir com a segunda etapa. “Precisamos transformar o mercado em um destino turístico e não há nada melhor do que a gastronomia para isso ”, afirma a curadora. Especializada em arranjos de flores e buquês, a Flor.idas é uma das marcas do setor de serviços que está de malas prontas para o mercado.

O braço cultural do espaço, o Solar dos Abacaxis, foi o primeiro a chegar. Trata-se de um instituto sem fins lucrativos focado em artes e educação. Desde 2023, ele já organizou três exposições no futuro mercado – a abertura da quarta está prometida para 20 de abril. No terceiro andar, o Solar dos Abacaxis terá direito a um espaço para residências artísticas.

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Para Lopes, o sucesso de um empreendimento do tipo se deve, principalmente, à variedade do público. Daí suas escolhas ao definir o mix de empreendimentos que tomarão conta do espaço – haverá desde comida de rua, por exemplo, até opções mais refinadas. Referência mundial, o Mercado da Ribeira, em Lisboa, ligado ao guia “Time Out”, aposta na mesma fórmula. “Virou um ponto de encontro de pessoas de todas as raças e cores, o que é muito bom para o turismo”, acredita a curadora.

O papel de mercados como esse na revitalização de regiões abandonadas – e a importância deles para o setor de bares e restaurantes – é o tema de uma das mesas-redondas do próximo SindNews, no dia 14/5. Organizado pelo Sindrio, o Sindicato de Bares e Restaurantes do Rio de Janeiro, o evento deverá reunir, das 9h às 19h30, cerca de 250 pessoas no Exc Rio, no Jockey Club Brasileiro (confira a programação completa e mais informações em sindrio.com.br).

Lopes será uma das participantes da mesa-redonda sobre mercados que apostam boa parte das fichas em bares e restaurantes. Rafael Quick, um dos responsáveis por dar início à nova fase do Mercado Novo de Belo Horizonte, e Armed Nemr Sarieddine, vice-presidente do Mercado Municipal do Rio, o Cadeg, que virou sinônimo de boa comida, serão os outros dois debatedores. A mediação ficará a cargo de Thiago Nasser, CEO da Junta Local.

“A união da gastronomia com lojas de artesanato e outros produtos regionais é muito vantajosa”, afirma Sérgio Abdon, diretor-executivo do SindRio. “A gastronomia se beneficia muito dos visitantes que se dirigem aos mercados, a princípio, só para passear, e é a força motriz de empreendimentos do tipo. O Rio de Janeiro deveria explorar mais esse formato, que abre novas possibilidades para bares e restaurantes”.

Nasser é um dos nomes por trás da retomada do Mercadinho São José, cartão-postal de Laranjeiras que estava abandonado desde 2018. A Junta Local se aliou à empresa de engenharia Engeprat para montar o consórcio que será responsável pela administração do espaço nos próximos 25 anos – até o começo do ano, o mercado e o terreno ao lado pertenciam ao INSS, que os repassou para a prefeitura por R$ 3 milhões.

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Inaugurado em 1944, o São José é fruto da decisão do então presidente Getúlio Vargas de transformar as baias que ali existiam em um mercado cujo propósito era fornecer alimentos mais acessíveis à população durante a Segunda Guerra Mundial. Na época do Império, o espaço funcionou como senzala e como celeiro de uma fazenda.

A reabertura está prevista para o segundo semestre, quando o mercado completará 80 anos. As obras de requalificação, que serão custeadas pela iniciativa privada, estão estimadas em R$ 8,5 milhões. A meta é distribuir os boxes para queijarias, peixarias e lojas de vinho, entre outros empreendimentos do tipo. Espaços para produtos orgânicos e operações gastronômicas também estão previstos.

Inaugurado em 1963, o Mercado Novo de Belo Horizonte virou uma das principais referências no Brasil para quem está determinado a recuperar edificações ou regiões abandonadas. No centro da capital mineira, ele foi projetado para abrigar mil lojas, mas acabou esquecido por décadas e décadas. Se hoje é tido como um dos destinos mais descolados da cidade é porque um grupo de empresários resolveu apostar nele em 2018, dando início a uma transformação radical.

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Até então, ele abrigava, basicamente, lojas de artigos como velas e uniformes, estabelecimentos de serviços gráficos e uma feira noturna voltada para bares e restaurantes. No segundo andar, no qual cerca de 40 comerciantes resistiam, aquele grupo de empresários, Rafael Quick entre eles, montou a Distribuidora Goitacazes e a Cozinha Tupis. Tanto a cervejaria quanto o restaurante derivam de outros dois negócios do mesmo grupo, o bar Juramento 202 e a cervejaria Viela.

A ambientação adotada pela Goitacazes e pela Tupis, assim como a comunicação visual, foi inspirada no próprio mercado. Virou uma regra informal acatada pela maioria dos estabelecimentos que brotaram no mesmo andar em seguida, na esteira do sucesso dos novos inquilinos – daí a atmosfera vintage, que virou uma das marcas da nova fase do Mercado Novo de BH. No início, combinou-se o seguinte: só duas inaugurações podiam ser feitas a cada mês. Tudo para esticar ao máximo o ar de novidade.

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Em 2018, 168 lojas do segundo andar estavam fechadas. Hoje em dia, nenhuma delas está desocupada, sinal inequívoco do sucesso da retomada do espaço. Até o terceiro andar, antes às moscas, ganhou novos inquilinos — os empreendimentos deste piso ocupam cerca de 200 lojas, alguns deles mais de uma. “O maior acerto do nosso projeto de reocupação foi a valorização das pessoas que já trabalhavam por lá”, resume Quick. Não à toa, boa parte dos ingredientes utilizados na Cozinha Tupis é adquirida na feira noturna do mercado, organizada no térreo.

Outro acerto, diz ele, tem a ver com o mix dos novos estabelecimentos pinçados para o segundo andar. “Não faria sentido trazer operações que fossem prejudicar as que já existiam, nem convidar uma quantidade excessiva de negócios parecidos”, argumenta. “Se todo mundo decidisse vender cerveja, por exemplo, todo mundo ia quebrar”.

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Em Belo Horizonte, a transformação do Mercado Novo serviu de inspiração para a guinada da Galeria São Vicente. Voltada para a Praça Raul Soares, ela era sinônimo, até há pouco, de oficinas que consertam máquinas de costura — em outras palavras, vivia vazia. Agora, graças à abertura de bares disputados no primeiro andar, a galeria vive cheia até alta madrugada.

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