Da terra do Romeu e Julieta
Para os mineiros, sem dúvida, oferecer comida é doar sentimentos. É quase que obrigatório provar os quitutes que oferecem por lá, sinônimo de carinho e do tradicional acolhimento local
Por: Cecília Padilha
Belo Horizonte, a capital de Minas Gerais, é a própria arte do bem receber. E tanta receptividade pode ser claramente comprovada pela infinidade de excelentes opções gastronômicas que encontramos por lá.
Já faz muito tempo, o tradicional Mercado Central é quase que mandatório aos que vão conhecer a cidade. Além dos tradicionais ingredientes, como doce de leite, queijos, café, pão de queijo, também podem-se encontrar os mais variados produtos artesanais. E, hoje em dia, além da cachaça, há também, sendo produzidos por lá, muitas opções de vinhos e destilados, como o gim, de excelente qualidade. E sempre com a tradicional simpatia e receptividade.
Outra opção é o Mercado Novo, que funciona em um antigo galpão, que, na década de 1950, servia de garagem para os bondes e foi revitalizado com curadoria, para escolha dos diversos artesãos que ali abriram seus negócios. Imperdível conhecer o Cozinha Tupis e suas comidinhas de boteco acompanhadas da cerveja artesanal Viela, feita na casa. Pode-se pedir, inclusive, um menu degustação com deliciosa sequência inspirada na culinária local, que inclui desde caldo de mocotó, língua, jiló, todos servidos no balcão, de frente para o chef Henrique Gilberto, que finaliza os pratos.
Outra excelente opção é uma visita ao restaurante Xapuri, que em tupi-guarani quer dizer “lugar tranquilo”, e existe desde 1987, está em sua segunda geração e surgiu com apenas seis mesas – muito rapidamente tornou-se uma das maiores referências gastronômicas da cidade: de 80 pessoas em um domingo, hoje em dia chegam a atender até 1.000 comensais. Comida típica mineira, de excelente qualidade, acompanhada de música sertaneja ao vivo, com sanfona e violeiros, fazem do programa uma verdadeira experiência. Vale provar o drinque “Cerradinho”, especialidade do chef Flávio Trombino, feito com licor de pequi, hortelã, gengibre e limão-cravo (que lá leva o nome de limão-capeta). As porções são bem fartas, como em uma refeição em família. Algumas facilmente servem até quatro pessoas. É o caso do “frango preguento”, de cocção lenta, e que em razão disso solta colágeno, deixando uma textura gelatinosa. O chef explica que antigamente era um prato preparado por pescadores, que o comiam com as mãos, e assim ficava “preguento”. Depois da pandemia, com o intuito de deixar o restaurante ainda mais regionalizado, passaram a oferecer uma carta de vinhos exclusivamente de mineiros.

Mas nem só de comfort food vive a capital mineira: são muitas as opções que mesclam pratos da culinária local e técnicas contemporâneas, como é o caso do restaurante Glouton, do chef Leonardo Paixão, que atualmente serve apenas menus degustação. Pratos com nitrogênio líquido, algodão doce, e misturando muitos sabores, a exemplo do complexo e incrível prato com abóbora, café e ar de crustáceos. O restaurante recentemente entrou no ranking do prêmio 50 Best América Latina, ocupando a 68o posição.
Outra opção contemporânea é o restaurante Pacato, do chef Caio Soter, inaugurado há cerca de um ano. Ali, além do menu degustação, também possuem a opção à la carte. Sendo músico um dos sócios da casa, Vitor Velloso, criaram inclusive a trilha sonora para acompanhar o momento da degustação. O plano é que depois de terem atingido o marco de dez cardápios diferentes possam criar um disco com as melodias. Pratos como o ravióli de porco com caldo de pé de porco; jiló defumado ao molho de mostarda, com jabuticaba avinagrada, e o creme de fígado de galinha; bochecha de porco com mamão verde, abóbora tostada e molho de porco com cachaça, são algumas das opções da casa.
Estando na capital mineira, imperdível também é estender a viagem para alguns dias em Inhotim. Não se trata apenas de um museu de arte moderna interativo (o maior museu do mundo a céu aberto), mas também de um jardim botânico certificado. São muitas as obras de arte e apenas um dia não será suficiente para explorar a complexidade do local. São oito jardins temáticos e 23 galerias com obras impactantes. Vale conhecer o restaurante Tamboril, com deliciosa comida no formato de buffet, todo preparado pela chef Dailde Marinho, que se orgulha de sua receita de pão de queijo. Segundo ela, o melhor. Eu pude comprovar!