Vinhos

Franco-chileno de estirpe

Texto Ricardo Bohn Gonçalves
Fotos Ricardo d’angelo

Em recente visita ao país, o enólogo Marcel Galardo e o diretor de marketing Claudio Naraujo, ambos da vinícola chilena Los Vascos, estiveram em São Paulo e realizaram uma degustação exclusiva para Prazeres da Mesa. Localizada no Vale do Conchagua, a 200 quilômetros da cidade de Santiago, a vinícola Los Vascos possui vinhedos com características microclimáticas muito particulares, propícias ao bom desenvolvimento das videiras. Recebe uma constante brisa marítima nos dias de verão e tem uma boa quantidade de chuvas no inverno. São 650 hectares de área e em seu solo argiloso estão plantadas majoritariamente Cabernet Sauvignon e Chardonnay, em vinhas com idade média de 35 anos.

A história da casa começa em 1988, quando o então diretor, do grupo Lafite, Gilbert Rokvam, foi ao Chile à procura de terras, com o objetivo de produzir um vinho de alta qualidade com a marca de seu grupo. Depois de muita procura, associou-se à família Eyzaguirre e iniciou a produção de vinhos com os rótulos “Los Vascos”. Essa união propiciou também a junção dos conhecimentos da terra, das uvas plantadas no sistema pré-Phyloxera, que os chilenos possuíam, com as técnicas de produção dos franceses. Atualmente, o controle acionário pertence ao grupo “Domaine Barons Rothschild” (Latife). Os vinhos provados nessa exclusiva degustação foram os da linha “Gran Reserva” das safras 2000 a 2006, com exceção daquela do ano de 2002. Os “Gran Reserva” situam-se no meio da linha de vinhos da vinícola, tendo abaixo o Los Vascos Cabernet Sauvignon – produção de maior volume – e acima o vinho Premium “Le Dix”, top da marca.

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Os vinhos Los Vascos Gran Reserva até o ano de 2004 eram elaborados 100% com a Cabernet Sauvignon, casta em que os Rothschild são mestres, devido a sua tradição de elaboração de vinhos em Bordeaux, França, terra-mãe dessa uva. A partir de 2005, o vinho sofreu a adição de novas cepas como Carménère, Syrah e Malbec. Segundo Galardo, essa alteração visou a tornar o vinho mais fácil de entender e de beber, tornando-o mais acessível a um número maior de consumidores. A inclusão, ainda que minoritária, aproximadamente 25% dessas castas, ampliou o leque de aromas, principalmente os frutados e “adoçaram” os taninos, tornando-os mais arredondados, prontos para ser bebidos mais cedo, sem tanta necessidade de envelhecimento. O Gran Reserva envelhece por volta de 12 meses em tonéis de carvalho francês, sendo 1/4 novos.

Detalhe importante: o vinho não é filtrado. Ao degustar essas cinco safras, ficaram evidentes as mudanças introduzidas. Os vinhos produzidos com a totalidade de Cabernet Sauvignon apresentam as características dessa uva, seus aromas e taninos melhoram com o tempo e uma certa austeridade, marca bem evidente nos vinhos franceses, é notada. Já as safras com o novo corte, introdução da Carménère, Syrah e Malbec, têm aromas de frutas muito mais intensos e doces. Como resultado, temos um vinho mais moderno e pronto para o paladar contemporâneo. Menos tradicional.

A prova ocorreu em um almoço no Cantaloup, em São Paulo, com cardápio especialmente preparado para a ocasião. A importadora Aurora traz com exclusividade os vinhos Los Vascos para o Brasil.

As safras degustadas

• 2000: Cor vermelho-atijolado, digno de sua idade, aromas com um toque vegetal, com uma complexidade adquirida pelo tempo. Ótima evolução, ainda com taninos e acidez presentes. Inteiro nos seus oito anos.
• 2001: Rubi mais claro, vivo, brilhante, aromas de fruta, madeira, tabaco, eucalipto, pimentão-verde, também com ótima evolução. Vinho muito bem estruturado. Um clássico e tradicional Cabernet Sauvignon chileno.
• 2003: Um vinho bem exuberante, cor mais viva, aromas muito intensos, frutas, framboesas, tabaco, taninos bem presentes com um longo final.
• 2004: Cor rubi brilhante, ainda fechado no aroma. Mostra um paladar potente com capacidade de longo envelhecimento apesar da austeridade mostrada, um vinho de classe.
• 2005: Cor rubi intenso, brilhante, tem uma mescla de 75% Cabernet Sauvignon, 10% Carménère, 10% Syrah e 5% Malbec. Apresenta uma carga tânica menor, aromas mais adocicados, compota, frutado. Um vinho redondo e pronto para beber.
• 2006: Praticamente com as mesmas características de 2005. Apresentou-se devido a sua idade, um pouco mais fechado, mas também redondo e frutado.

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Prazeres da Mesa

Lançada em 2003, a proposta da revista é saciar o apetite de todos os leitores que gostam de cozinhar, viajar e conhecer os segredos dos bons vinhos e de outras bebidas antecipando tendências e mostrando as novidades desse delicioso universo.

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