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Gastromotiva cria campanha #EuAlimentoEsperança

Em meio à pandemia, nascem as Cozinhas Solidárias que levam comida a quem tem fome

Fundada há 14 anos, a Gastromotiva usa a gastronomia como agente transformador. Com uma série de projetos sociais desde 2006, a instituição, que mantém o Refettorio, no Rio de Janeiro, teve de se adaptar para continuar sua atuação mesmo durante a pandemia. Foi quando nasceu o projeto #EuAlimentoEsperança. Conversamos com David Hertz, chef, empreendedor e fundador da Gastromotiva, sobre o momento que estamos vivendo e sobre como está sendo feito o trabalho neste período.

David Hertz, fundador da Gastromotiva. Foto: Angelo Dal Bó/ divulgação.
Como foi a criação e a transição rápida das atividades normais para a #EuAlimentoEsperança?

Por um bom tempo a Gastromotiva, por meio da equipe de educação, estava pensando em como a gente podia atuar trazendo o curso Empreenda Mais nas comunidades. Isso porque nós fazemos toda a nossa educação dentro das faculdades (em São Paulo estamos na Anhembi Morumbi, por exemplo; e no Rio de Janeiro, na Unisuam), e queríamos ir para os territórios onde as pessoas têm suas pequenas produções, pequenas lojas. Quando a pandemia do Covid-19 chegou, o Reffetorio também teve de fechar. Mas sempre recebemos doações, então conseguimos distribuí-las para outras organizações locais do entorno.

Então, primeiro o Refettorio virou um banco de alimentos e, logo em seguida, quando começamos a divulgar isso nas redes sociais, uma aluna nos procurou. Ela é empreendedora e falou que gostaria de, na casa dela, fazer e oferecer marmitas para as pessoas que moram próximo e não têm o que comer. Portanto, as Cozinhas Solidárias nasceram da vontade, da necessidade e da solidariedade de quem já é beneficiário da Gastromotiva por meio da educação. São ex-alunos que agora estão transformando suas residências ou pequenos negócios em Cozinhas Solidárias, para entregar as “quentinhas” gratuitas a pessoas em situação de rua.

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Como tem sido a participação das pessoas?

A gente lançou a campanha #EuAlimentoEsperança para atender como meta 80 mil pessoas ao mês. Isso, então, vêm das Cozinhas Solidárias em São Paulo, Rio de Janeiro e Curitiba, e do banco de alimentos no Rio. No banco, a Gastromotiva destina alimentos para que outras organizações cozinhem e estamos atendendo em torno de 35 organizações por toda a cidade, sendo que eles já distribuíram mais de 32 mil “quentinhas” em 5 semanas. As Cozinhas Solidárias são sete, sendo cinco no Rio, uma em São Paulo e uma em Curitiba. E essas já atenderam mais de 2.500 refeições. Se tivéssemos mais recursos financeiros, poderíamos agora ter 50 cozinhas, porque já temos 50 ex-alunos selecionados para abrir essas cozinhas. Então, enquanto captamos recursos por um lado, com a sociedade civil e com empresas, por um outro lado, estamos fazendo um recrutamento com as comunidades mais carentes e que têm o potencial de ter essa cozinha para atender quem está com fome nas periferias.

Como está sendo a logística para que as doações cheguem às casas dos alunos nas comunidades?

Cada cozinha está fazendo o próprio transporte. Ainda não conseguimos nenhum parceiro de logística, então temos um recurso dentro do projeto que é para essas entregas. Geralmente o próprio empreendedor tem alguém que possa fazer esse carreto, enquanto isso estamos buscando uma empresa de logística para nos apoiar.

Foto: Angelo Dal Bó/ divulgação.
Como você disse, vocês expandiram também para Curitiba. Pretendem ir para outras cidades? Quais?

O meu sonho é atender um milhão de refeições por mês. E a Gastromotiva, como organização, tem a capacidade técnica para fazer as 80 mil refeições por mês, que é a capacidade de cerca de 50 Cozinhas Solidárias. Mas sabemos que para chegar às 300 cozinhas que atenderiam esse um milhão de pessoas, precisamos de parcerias. Ou seja, a gente está buscando outras instituições, em outras cidades e estados, para ver como podemos unir forças (recursos financeiros, humanos, técnicos) para que as Cozinhas Solidárias possam se expandir por todo o país.

Além do site, há outras formas das pessoas ajudarem vocês? Quais?

As pessoas hoje podem participar da nossa campanha no Kickante por meio da campanha #EuAlimentoEsperança e também em nosso site pelo paypal ou ainda via depósito em conta corrente.

Nas últimas semanas vimos o setor de alimentação se unir muito para lutar contra as dificuldades deste período. Como você enxerga o futuro do setor?

Sem sobra de dúvidas, acredito que o futuro da gastronomia é a gastronomia social. Os novos negócios, como as Cozinhas Solidárias, começam como uma obra de assistência, mas têm potencial de virar um negócio local. Isso porque eles empregam, visto que cada empreendedor tem, no mínimo, de dois a três voluntários. Ou seja, com o sucesso, podem vir a pagar por isso. Então, eu vejo que no nosso setor, teremos de nos reinventar. Teremos de ser muito criativos e trabalhar com recursos limitados e usar os nossos talentos. Portanto, eu vejo no futuro mais negócios locais, com recursos limitados, comida muito bem feita, mas também com um custo-benefício muito, muito razoável. Vejo esse empreendedorismo por necessidade, mas com alto potencial de ter impacto social e de poder transformar as realidades de comunidades locais.

 

Foto: Angelo Dal Bó/ divulgação.

 

#JuntosAlimentamosMais

Recentemente, o hortifrúti Natural da Terra e a Americanas se uniram na campanha #JuntosAlimentamosMais. Ou seja, a cada cesta básica vendida aos clientes no valor de 59 reais, as empresas doarão outra, sendo que a meta é doar 10 mil cestas. Para ajudar, basta comprar a cesta básica em uma das lojas do Natural da Terra (física ou delivery). Com isso, a ong conseguirá auxiliar cerca de 30 instituições parceiras no Rio de Janeiro e em São Paulo. Inclusive, a primeira delas, uma Cozinha Solidária localizada no bairro paulistano do Jaguaré, receberá o primeiro lote da doação nesta quinta-feira (14). E, portanto, poderá começar a operar com a distribuição de marmitas a quem mais precisa.

 

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Isabel Raia

Na equipe desde 2014, Isabel Raia é editora de Prazeres da Mesa. É formada em jornalismo, pela PUC-SP e pela Universidad de Castilla-La Mancha (na Espanha), e pós-graduada em Cozinha Brasileira, pelo Senac. Isabel tem na gastronomia uma de suas grandes paixões (principalmente se a receita incluir queijo ou chocolate).

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