Mesa SP – De Campinas para o mundo
No estrelado Nouri, em Singapura, Ivan Brehm cozinha e repensa tradições gastronômicas

Poucos adjetivos descrevem tão bem o chef Ivan Brehm como o termo globalizado. Paulista de Campinas, ele n
asceu em uma família que é a cara da mistura brasileira – imigrantes de origem russa e alemã de um lado, descendentes de espanhóis, italianos, sírios e libaneses do outro. Cresceu acompanhando as avós na cozinha e não demorou a escolher a profissão. “Quando entendi que meu coração estava na cozinha, me joguei no mundo para aprender.”
Aos 18 anos, começou a jornada de aprendizado que o levou para Nova York, Espanha, Itália, Inglaterra e Singapura, onde jogou âncora e vive até hoje. Sua história tem um sabor ainda mais especial pelo sucesso que Brehm alcançou no país asiático – aos 38, o chef comanda a cozinha do Nouri, estrelado pelo guia Michelin.
“Mantenho laços afetivos bem fortes com o Brasil, com nossa cultura, mas me sinto em casa onde estou.”
O público do Mesa Tendências terá a chance de entender a filosofia que está por trás do cardápio do Nouri – um complexo sistema de pensamento batizado de Crossroads Cooking. Através de uma abordagem multidisciplinar, Brehm se debruça sobre objetos culturais – como um prato, por exemplo – para mapear todos os processos e interações humanas que o compõem. “É ridículo falar de tradições gastronômicas isoladas. A linha contínua que liga processos, movimentos e técnicas é a história da humanidade, não de um país específico. Impressões errôneas sobre nossas tradições e diferenças culturais são usadas para separar comunidades e justificar o preconceito.”

Tal filosofia se traduz, na cozinha, em mais reflexão e criatividade. Para Brehm, é preciso esquecer verdades assumidas e focar na pesquisa. “Esse tipo de visão amplia significativamente o processo criativo. O resultado é uma cozinha inovadora e, ao mesmo tempo, familiar, respeitosa em relação à tradição e questionadora frente ao preconceito e aos discursos de propriedade ou apropriação.”