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Memórias de um terroir

Características únicas de clima e solo da região de Puente Alto resultaram na magnífica safra 2015 de Don Melchor

Aos pés da Cordilheira dos Andes encontra-se um dos terroirs mais propícios para o cultivo de uvas Cabernet Sauvignon. A região de Puente Alto, no Chile, está instalada na margem norte do Rio Maipo e a 650 metros acima do nível do mar. O solo é pobre em nutrientes, porém composto de elementos diversos, como areia, cascalho, argila e pedras arredondadas, resultado de milhares de anos de erosão.

Em relação ao clima, ela é contemplada com invernos frios e chuvosos e uma temporada marcada por noites frias e dias de verão temperados, características típicas do clima mediterrâneo semiárido e importantes para uma longa e homogênea maturação das uvas.

Essas particularidades da região chilena são alguns dos principais motivos para firmar o sucesso de um dos vinhos ícones do país, o Don Melchor, da renomada Concha y Toro.

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Com 30 anos de tradição e grandes reconhecimentos ao longo de sua história, Don Melchor apresentou no final de 2018 uma de suas melhores colheitas até então. A safra 2015, segundo Enrique Tirado, enólogo da vinícola, expressa o terroir de Puente Alto em sua mais pura essência.

Isso porque, diferentemente do que acontece em anos normais, a temporada foi marcada por precipitações totais mais baixas, somando apenas 277 milímetros de chuva, concentrando-se no inverno e estendendo-se até o mês de setembro.

Esse acontecimento permitiu boa reserva de água no subsolo e criou um ciclo de brotação com condições ideais de pouca umidade.

As oscilações climáticas, por sua vez, foram mais intensas nos meses seguintes, contribuindo para a formação uniforme dos frutos e maior concentração de taninos, sabores e aromas. “Essas mudanças de temperatura são muito importantes para a qualidade da uva”, afirma Tirado. “E, para a safra de 2015, tivemos tudo o que precisávamos.”

Segundo o enólogo Enrique Tirado, Don Melchor representa com fidelidade as características do vinhedo localizado na região chilena de Puente Alto

Por trás de um ícone

Além da Cabernet Sauvignon, que corresponde a 92% da composição do Don Melchor 2015, o blend contempla ainda 7% de Cabernet Franc e, pela primeira vez em sua história, 1% de Petit Verdot.

Para elaborar o vinho final, são utilizadas parcelas de lotes diferentes de Cabernet Sauvignon, variedade que caracteriza os rótulos de Don Melchor.

“Ao longo dos anos, começamos a estudar as diferenças de solo, pois percebíamos variações de cor e textura nos vinhos”, diz Tirado. Com isso, os 127 hectares do vinhedo foram subdivididos em sete lotes de Cabernet Sauvignon, cada qual com uma personalidade, e outros pequenos lotes de Cabernet Franc, Merlot e Petit Verdot.

“A mágica de Don Melchor é isso: a cada ano mesclar as parcelas, optando mais por uma do que por outra e, ao final, obter algo incrível. O que também nos ajuda é termos um vinho versátil que possibilita combinar diferentes aromas, sabores e texturas.”

Antes de chegar às taças dos apreciadores, a elaboração desse vinho começa na vindima, normalmente em abril, com uvas colhidas de forma manual e já com uma primeira seleção dos cachos.

Em seguida, as frutas são levadas à adega, onde são escolhidos os melhores grãos e cachos para dar início ao processo de vinificação. A fermentação alcoólica acontece em pequenos tanques de aço inoxidável, exclusivamente separados para cada lote do vinhedo.

Terminada essa etapa, a cuba é fechada para dar início à maceração, que dura aproximadamente 11 dias. Em julho, Tirado prepara o blend final do vinho e, com a receita perfeita em mãos, a mistura é levada para barris de carvalho francês (69% novas e 31% de segundo uso), nos quais descansa por 15 meses.

Equilíbrio da natureza

O Don Melchor 2015 impressiona logo no primeiro gole. Apesar de jovem, já está pronto e tem grande potencial de guarda. A elegância é a principal característica desse vinho, com textura fina e delicada, além do equilíbrio e da complexidade.

Tem cor púrpura e aroma marcado por frutas vermelhas com notas minerais e tostadas. Em boca, é amplo, macio e expressivo. Tem bom drinkability com energia e frescor da fruta.

Enrique Tirado se diz emocionado e garante ter elaborado um dos melhores vinhos de sua carreira. Para ele, o objetivo é poder expressar o vinhedo do qual a bebida se originou. “Queremos que as pessoas sintam esse terroir, pois a ideia não é fazer algo como outras regiões do mundo, mas fazer o melhor com o que temos aqui.”

  • Cepas: 92% Cabernet Sauvignon, 7% Cabernet Franc e 1% Petit Verdot
  • Colheita: entre 18 de março e 8 de maio de 2015
  • Engarrafamento: outubro de 2016
  • Maduração: 15 meses em barris de carvalho francês (69% novos)
  • Graduação alcoólica: 14,3° vol%
  • pH: 3,62
  • Acidez total: 3,36 g/L
  • Harmonização: carnes vermelhas e de caça. Patês com trufas, queijos de vaca ou de cabra, secos e maduros ou cremosos

* A reportagem viajou ao Chile a convite da Vinícola Concha y Toro

* Reportagem publicada na edição 180 de Prazeres da Mesa, agosto de 2018

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Beatriz Albertoni

A paulistana divide-se entre duas paixões: jornalismo e gastronomia. Formada pela Faculdade de Comunicação Social Cásper Líbero, a repórter está na redação de Prazeres da Mesa desde 2015. Adora conhecer histórias, viajar e apreciar um bom show de rock, além de nunca recusar bolo acompanhado de cafezinho.

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