POR JOSIMAR MELO (*)
Não houve grandes surpresas neste ano na entrega dos prêmios aos 50 melhores restaurantes do mundo, ocorrida em Londres na noite de 21 de abril. O que de certa maneira era de se esperar – difícil imaginar uma mudança brusca no cenário mundial da gastronomia em 12 meses.
A própria cerimônia repetiu a apoteose do ano passado: a entrega do prêmio a Ferran Adrià, pela terceira vez consecutiva, foi coroada com uma chamada geral, para subir ao palco, de todos os chefs espanhóis ali presentes, entre os quais Juan Mari Arzak, Juan Roca e Andoni Aduriz, aos quais ele prestou homenagem. A diferença é que, dessa vez, ele dedicou o prêmio também a Grant Achatz, do Alinea de Chicago, que, aos 33 anos, trava luta contra um câncer na boca – ao que tudo indica, já debelado.
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Os demais premiados do S.Pellegrino World’s 50 Best Restaurants, no topo da lista, foram, pela ordem: The Fat Duck (Inglaterra), de Heston Blumenthal (Inglaterra); o Pierre Gagnaire (França), do chef homônimo; o Mugaritz (Espanha), de Andoni Aduriz; e The French Laundry (Estados Unidos), de Thomas Keller. O brasileiro D.O.M. (de Alex Atala), que, no ano passado, ficou no 38o posto, passou para o 40º. lugar. O homenageado pelo conjunto da obra em sua vida foi o italiano Gualtiero Marchesi.
A seqüência de atividades encerrou-se com um almoço no restaurante St. John’s, um dos meus preferidos no Reino Unido. No almoço de confraternização, o prato principal foi uma torta no estilo britânico, com recheio de pombo e pé de porco. O máximo. Ao almoço compareceram os grandes chefs e os presidentes do júri internacional.
Adrià, como sempre cercado por todo lado, exultava por não ter de fazer nada senão posar para fotos (“todo ano, aqui em Londres, são os únicos dois dias em que não preciso fazer nada, dar aula, conceder entrevista, só comer e beber com os amigos…”). Mas, advertia os brasileiros presentes: “Em novembro, vou ao Brasil (a convite do Mesa Tendências) e quero trabalhar duro. Podem contar que vou dar uma longa aula, com calma, fazer demonstrações e participar de debates, pois há dez anos os brasileiros me convidam sem que eu possa ir, e agora que vou, quero que a espera seja recompensada”.
Uma inovação na votação deste ano foi que os jurados de todos os continentes, também fizeram um lista à parte dos melhores de sua própria região. No caso da América do Sul, os cinco mais votados foram Astrid & Gaston (Lima, Peru), Fasano (São Paulo, Brasil), Malabar (Lima, Peru), Oviedo (Buenos Aires, Argentina) e Toshiros (Lima, Peru). Como vem acontecendo cada vez mais, o conjunto da premiação teve grande repercussão no mundo, mesmo que com poucas novidades.
Mas o que mais preocupou o comitê de 25 pessoas que preside o júri (de cerca de 700 pessoas pelo mundo) não foi tanto a reconfirmação do talento dos grandes restaurantes incluídos novamente na lista, mas a ausência de peso dos restaurantes asiáticos, especialmente os japoneses. Embora os jurados estejam espalhados pelo mundo, aparentemente os orientais conhecem mais os europeus e americanos, enquanto os jurados ocidentais pouco conhecem da impressionante qualidade e desenvolvimento da gastronomia na Ásia e, por isso, tendem a votar mais nos estabelecimentos das próprias regiões. Uma distorção que deve ser enfrentada nas próximas edições do prêmio.

(*) Josimar Melo é crítico de gastronomia do jornal Folha de S. Paulo e autor do guia de restaurantes que leva seu nome.