Novas descobertas sobre o sal
Por Beatriz Albertoni
Foto arquivo
Por muito tempo consagrou-se a ideia de que o nosso corpo necessita de água quando ingerimos grande quantidade de sal, mantendo assim o equilíbrio do organismo. Mas essa substância, considerada uma das maiores vilãs da saúde, guarda alguns segredos.
Recentemente, um artigo científico publicado pelo Journal of Clinical Investigation contradiz os conhecimentos normalmente associados ao sódio ao dizer que o consumo desse ingrediente não aumenta a sensação de sede, mas de fome.
O resultado do estudo se deu por meio de anos de pesquisas do médico alemão Jens Titze, hoje especialista em rins na Universidade Vanderbilt, nos Estados Unidos. Um dos experimentos foi realizado com um grupo de dez voluntários russos que participaram do projeto Mars500, uma simulação de voo a Marte. Dividida em duas fases, a análise procurava comparar a reação do organismo desses astronautas quando submetidos a diferentes dietas.
Em um primeiro momento, em uma viagem com duração de 105 dias, os astronautas seguiam uma dieta diária contendo 12 gramas de sal, depois alterada para nove gramas e então reduzida para seis, um ciclo realizado em um período de 28 dias. Na segunda etapa, em uma viagem mais longa de 520 dias, os voluntários também consumiram a mesma dieta, mas ao final do ciclo voltaram a consumir as 12 gramas iniciais.
Com todas essas fases monitoradas, o médico mediu a quantidade de sal liberada na urina dos participantes, além do volume – grande nas dietas ricas em sal -, e a dose de sódio no sangue. Tudo parecia normal, até analisar a ingestão de líquido. Ele percebeu que a longo prazo, em vez de beberem mais, a equipe consumia menos água quando ingeria mais sal.
A pergunta que deixou Dr. Titze intrigado foi de onde surgia o grande volume de urina identificado no experimento, já que não houve muito consumo de líquidos. A possível explicação para esse enigma, concluiu o pesquisador, é que o corpo produz água quando o consumo de sódio é excessivo.
No entanto, quando resolvida a questão da sede, outro ponto chamou a atenção: nas dietas com alto nível de sódio, os astronautas diziam sentir mais fome, o que não acontecia quando estavam submetidos a pouco sal. Ainda analisando a urina de cada um, o médico identificou o aumento da produção de glicocorticoides, hormônios relacionados ao metabolismo.
Tentando encontrar mais explicações, ele começou um novo estudo, dessa vez com ratos de laboratório. Da mesma forma que aconteceu com os astronautas, quanto mais sal ele adicionava à comida dos animais, menos água eles bebiam.
Isso ocorre porque os altos níveis de glicocorticoides, de alguma forma, quebram músculos e gorduras do corpo, liberando água para o organismo aproveitar, o que poderia até ser relacionado à perda de peso. Mas todo esse processo requer energia, como também identificou o Dr. Titze. Por isso há um aumento da fome quando ingerimos grandes quantidades de sódio.
Mas parece loucura dizer que ingerir sal não causa sede, certo? Na realidade, se analisada uma situação a curto prazo, quando consumimos alimentos salgados, receptores em nossa língua mandam sinais aos neurônios que simulam urgência em consumir líquidos. Especialistas afirmam que esse tipo de sede pode não ter relação à necessidade do corpo de receber água.
Isso não significa, porém, que devemos deixar de nos preocupar com o ingrediente na alimentação. Apesar da interessante descoberta, o consumo excessivo de sal pode ser bastante prejudicial à saúde. Os altos níveis de glicocorticoides estão relacionados ainda à osteoporose, doenças cardíacas e diabetes, problemas pouco relacionados ao sódio. Sendo assim, essas pesquisas, apesar das contradições e mistérios a serem desvendados, podem abrir novos horizontes a diagnósticos e tratamentos médicos.