Vinhos

Novos goles da Argentina

Por Jorge Carrara

Munidos de cerca de 200.000 hectares de vinhedos e mais de 1 milhão de adegas, os produtores argentinos continuam sortindo o mercado com boas novidades – para diversos bolsos. Uma das mais recentes veio com o rótulo Salentein, uma adega do Vale de Uco, a cerca de 130 quilômetros ao sul da cidade de Mendoza, que criou uma nova ala básica: os Winemaker’s Selection, dois vinhos de corte, um tinto e um branco, assinados pelo enólogo da casa, Laureano Gómez.

O branco, safra 2007, mescla uvas Chardonnay e Sauvignon Blanc fermentadas em barricas de carvalho francês e agrada pela expressão de fruta (grapefruit, abacaxi), pelo bom corpo e acidez e pelo paladar untuoso (88/100). O tinto, um 2006, que combina uvas Malbec, Cabernet e Merlot, foi amadurecido por nove meses em barricas francesas. Encorpada, a versão rubra tem perfil atraente (ameixas, leve cassis, especiarias), boa estrutura tânica, e performance similar a exemplares mais caros da empresa (88/100, ambos por R$ 53, na Zahil).

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A Trapiche, também de Mendoza, foi responsável por outra. Nesse caso, não são vinhos de corte, mas varietais, e tampouco estão na base da pirâmide de goles da vinícola, mas perto de seu topo: os novos Single Vineyard, um trio de Malbec de diferentes terroirs da província. A casa produz cerca de 30 milhões de garrafas de vinho por ano, com uvas de 1.300 hectares de vinhas próprias e outra tantas de parceiros, 80 deles com vinhedos de Malbec.

A partir da colheita 2003, de acordo com a qualidade das uvas, três deles são escolhidos para elaborar um vinho especial, de vinhedo único, com o nome do proprietário, na categoria de rubro premium da adega. Bom para os viticultores, que ganham destaque, bom também para a vinícola. “Com os produtores competindo para ter fruta que permita que eles sejam escolhidos, o nível dos Malbec, melhorou muito”, explicou Daniel Pi, enólogo-chefe da casa, que visitou São Paulo para apresentar as últimas edições desses tintos.

A terceira leva dos Single Vineyard, colheita 2005, passou 18 meses em barricas de carvalho francês da mesma tanoaria – dando, segundo Pi, tratamento similar ao vinho, para que prevaleçam as diferenças de fruta e terreno. Um, o Viña Eleodoro Aciar, nasceu de vinhas de 95 anos de idade, encravadas em Perdriel – 15 quilômetros ao sul da cidade de Mendoza – e foi o mais maduro e redondo em boca. As marcas da madeira vêm na frente no copo, seguidas de ricas e persistentes notas de compotas de frutas vermelhas, embrulhadas em toques de baunilha e caramelo (91/100).

O segundo servido foi o Viña Francisco Olivé, oriundo de parreiras de 66 anos de Agrelo, 10 quilômetros mais ao sul. Amplo em boca, mostrou acidez mais presente e uma estrutura firme, com taninos doces e frutas frescas e maduras (ameixas, cerejas) que marcam o final (92/100).

O Vale de Uco e suas terras de clima mais frio, perto da cordilheira, volta com o último vinho, o Viña Fausto Orellana – de um vinhedo de 57 anos – que mostrou a maior estrutura e acidez do trio. Toques florais (violetas) junto a ameixas muito maduras dominam nariz e paladar, moldando um vinho complexo, intenso e delicioso (93/100, R$ 442 a caixa com os três vinhos, Interfood Classics).

O expert Jorge Carrara é colunista do jornal Folha de S. Paulo e do site Basilico

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