O grande senhor
Texto: Manuel Luz
Fotos: André Peniche e Tadeu Brunelli
Tive o prazer e a honra de assistir à palestra do produtor Michele Chiarlo, um dos maiores, vivazes e elegantes nomes do Piemonte na atualidade. Tais adjetivos usados para defini-lo são facilmente aplicáveis a seus vinhos. E, pensando bem, neste caso, a obra imita a vida, pois este senhor no auge dos seus 72 anos transferiu com grande sabedoria as suas próprias qualidades aos vinhos que perpetra.
Ao falar de maneira tranqüila e objetiva aos participantes da aula-degustação por ele ministrada, no Prazeres da Mesa ao Vivo, dispensou o tradutor e passou a conversar com o público explicando seus vinhos, métodos e contando um pouco da sua historia, que teve início em 1956, ano de fundação da vinícola, em Calamandra, vila entre as cidades de Canelli e Nizza, onde a sua família possuía uma casa e um pequeno vinhedo.
Apontado como um dos poucos produtores que dominam a técnica de fazer Barbera barricatto (como comprova o excelente Barbera La Court), a ele também se credita a introdução da fermentação malolática na região do Piemonte — técnica que origina vinhos mais equilibrados e mais fáceis de beber na sua juventude, com acidez arredondada. Enquanto encantava a platéia com suas explicações, foram degustados os seguintes vinhos:
Roero Arneis 2006
A uva Arneis, cultivada na colina de Roero, já esteve perto da extinção, mas foi recuperada a partir dos anos de 1980. Segundo Chiarlo, este vinho amadureceu dois meses em aço inoxidável e dois meses em garrafa. No copo apresentou coloração amarelo palha escura, límpido e brilhante. Aroma frutado e cítrico. Concentrado e encorpado em boca, com acidez arredondada, típica da casta Arneis.
Barbera d´Asti Le Orme 2006
Em sua composição, 100% de Barbera de vários vinhedos da região de Nizza. O vinho amadureceu 8 meses em tanques de carvalho de 5 mil litros, denominadas botti.
Coloração rubi de intensidade média e aroma de frutas frescas, com sutil nota de madeira. Em boca, acidez e teor de álcool equilibrados, taninos bem leves, tornando-o moderno, versátil e fácil de beber.
Barbera d´Asti Superiore “Nizza” La Court DOCG 2004
Produzido com uvas de um único vinhedo em Castelnuovo Calcea, em Nizza Monferrato. Trata-se de um vinhedo superior, com mais de 35 anos, em solo misto de marga calcária e magnésio. O vinho amadureceu 12 meses em barricas de carvalho francês novo. Coloração rubi escuro, límpido e velado. Aroma intenso e complexo de fruta em compota e leve nota de baunilha, mesclado a especiarias e tabaco. Em boca, encorpado, potente, frutado, com taninos maduros e acidez muito elegante. Fino, equilibrado, de sabor longo.
Barolo DOCG “Tortoniano” 2004
Proveniente da comuna La Morra-Barolo, onde o solo é de origem tortoniana, com colheita de 1,5 kg por planta. O vinho amadureceu por cerca de dois anos em tonéis de carvalho e mais 12 meses em garrafa. Coloração rubi escuro velada, de aroma intenso, com notas de tabaco, fruta em compota e aniz. Em boca, bom corpo e acidez, taninos maduros e teor alcoólico harmônico e redondo. Final de boca intenso e longo.
Barolo DOCG Cerequio 2003
Cerequio é o nome de um vinhedo situado entre as comunas de La Morra e Barolo. É considerado um dos maiores Barolo crus. Coloração rubi escuro, com aromas de especiarias (cravo), chocolate, baunilha, tabaco cortados por fruta em compota. De fato, um grande vinho. Em boca ótima concentração e acidez, taninos maduros e textura encorpada. Final de boca longo e frutado.
Os barolos tortonianos e os crus
São onze as comunas que compõem a zona Barolo DOCG. Dessas, apenas cinco possuem condições especiais de solo e produzem uvas diferenciadas. São elas: Barolo, Castiglione Falletto, La Morra, Monforte d´Alba e Serralunga d´Alba. Dois tipos de solo dividem estas zonas. À oeste, as comunas de Barolo e La Morra repousam sobre solo tortoniano. Já as comunas de Castiglione Falletto, Monforte d´Alba e Serralunga, do lado leste, apresentam solo helvético. Estas produzem o que se convencionou chamar de “crus de Barolo”, vinhedos especiais que ostentam no rótulo o nome do solo de onde provêm as uvas.