O Kalango Encantado, um boteco com comida do sertão

Esqueça o foie gras de ganso albino produzido por virgens turcas e salpicado com pó de trufas colhidas em noite de lua cheia por freiras cegas do Afeganistão. O boteco de Kátia Barbosa (Aconchego Carioca) O Kalango Encantado não tem ingredientes importados, nem cervejas artesanais ou louças assinadas. Mas pratos de ágata recheados de sabor. Muito sabor.

Às vezes, graças ao desconhecimento da gastronomia de nosso país continental, um e outro cliente confundem o mungunzá com grão-de-bico ou dizem que cuscuz só existe o marroquino.

É que O Kalango serve comida do sertão, preparada por Emerson Pedrosa, ex-sous-chef de Roberta Sudbrack. Tudo com produtos que qualquer um encontra em feiras e supermercados, e carnes de segunda – sem cobrar preços de primeira, como muito restaurante por aí.

Paçoca de carne de sol, arroz de leite, picadinho de músculo na jurubeba, feijão-de-corda com maxixe, baião de dois, frango com pequi, rabada com agrião vão se alternando no menu do dia.

Para compor o cardápio, os cozinheiros ouviram a pesquisadora Ana Rita Suassuna, autora de Gastronomia Sertaneja: Receitas Que Contam Histórias. Ela sugeriu o arroz Maria Isabel, feito com jerimum assado e carne de sol, um dos mais procurados na casa.

Na hora da sobremesa, vá de rabanada de broa de milho com doce de leite em um caldo de tapioca. E não ignore o café, que se não é gourmet, é passado na hora, igualzinho ao da vovó.

Se quiser esticar a visita, a happy hour vai brindá-lo com petiscos como pastel de carne de sol com requeijão do Norte, hot bode e ceviche de banana-da-terra.

Por Ursula Alonso Manso

Fotos Eduardo Almeida