O maior e mais complexo terroir está ganhando o mundo
Fotos: divulgação e Feltran Fotografia (retrato na bio)
O Brasil é rico, é diverso e isso a gente está careca de saber. Mas quando se olha com atenção para o universo de um produto, quando se compreende a relação dele com o meio, as aplicações e suas variações, o que era somente um produto, então se torna uma personagem.
Uma das personagens mais fascinantes que temos é a nossa cachaça. Ao falar dela, gera-se no mínimo curiosidade. As pessoas se envolvem, se identificam com as histórias e trajetórias que ela ajudou e ajuda a escrever pelo Brasil. Aí, claro que chegamos no gole. Por meio dele conseguimos revelar caminhos que jamais percorreríamos em palavras.
Assim como cognac e champagne têm sua origem controlada, a cachaça é, obrigatoriamente, brasileira. É um terroir do tamanho de um continente que está ganhando o mundo a cada dia que passa. Embora a maior quantidade de consumo seja em solo brasileiro, ela vem colecionando premiações, admiradores e ganhando espaço em bares e restaurantes no exterior.
Passamos por ondas de vodca, gim, tequila… e percebemos um crescente de sabores nessas fases da coquetelaria. Partindo do mais neutro e evoluindo para bebidas com mais aromas e sabores.
Agora é a vez dela. E o que a faz ser intrigante e conquistar tantos paladares? Complexidade. Não espere encontrar simplicidade de elementos em uma cachaça. Nada contra, mas cachaça não é vodca. É preciso entender o propósito de cada destilado ao apreciá-lo. E o da nossa caninha é aparecer, revelar sua produção, sua memória e seus processos.
Por mais que elas sejam produzidas em uma região comum, não espere uma cachaça semelhante a outra. Somadas às características impressas por cada produtor no processo, temos mais de 30 madeiras regulamentadas para o armazenamento da bebida. Além do famigerado carvalho, usado em destilados do mundo todo, ainda podemos combinar envelhecimentos de madeiras diferentes e proporções diversas em blends únicos.
As cachaças podem ser:
– Sem ou com pouca coloração:
Novas: armazenamento em inox que não imprime características à bebida;
Brancas: com passagem em madeiras como jequitibá e freijó, conhecidas como neutras, mas cá entre nós, não são tão neutras assim.
– Com coloração e aromas de madeiras
Armazenadas: com passagem em madeiras que imprimam cor e aromas expressivos por tempo e/ou tamanho indeterminados;
Envelhecidas: 50% da bebida com passagem por, no mínimo, um ano em recipientes de 700 litros;
Premium: 100% da bebida com passagem por, no mínimo, um ano em recipientes de 700 litros;
Extra – Premium: 100% da bebida com passagem por, no mínimo, três anos em recipientes de 700 litros.
Ao degustar o destilado nacional devemos estar atentos – leia-se preparados – para um universo de informações competindo pelos nossos sentidos. Para uma apreciação mais profunda e completa, aqui vão algumas dicas:
Uma cachaça nova deve entregar o frescor e pureza, enquanto uma envelhecida deve equilibrar a madeira à bebida, acrescentando uma nova camada. A seguir, temos dois exemplos entregaram personalidade em sua proposta.
Tiê Branca
De coloração límpida, apresenta em seu aroma um frescor delicado herbal, grama e intensidade da cana doce. No paladar, tem início picante que evolui para dulçor equilibrado com boa acidez e persistência ideal. Sugestão de consumo: Pura, com ou sem gelo em taça de vinho acompanhada de entradas, comidas picantes. (R$ 38; cachacarianacional.com.br)
Princesa Isabel Amburana
Âmbar, perfume doce de canela, mel e baunilha trazidos pela alta volatilização dessa cachaça de 45% de álcool. Os aromas persistem teimosamente no paladar e ganham no gole de corpo intenso, notas de coco queimado e caramelo derivados do toque de carvalho americano desse blend. (R$ 98,50; cachacarianacional.com.br)