NotíciasRankingVinhos

PARA AQUECER

Como devemos ter dias mais amenos nos próximos meses, recomendamos 11 rótulos para provar nos dias frios

Nos bastidores das lojas de vinhos e restaurantes costuma-se dizer que o frio é o melhor vendedor de vinhos. Não são raros os casos em que as vendas cresceram em uma escala de 2 dígitos, em julho, e os vendedores e sommeliers apontam o clima frio como o grande responsável pela façanha.

Porém, o sommelier Julio Elizio, da Adega Santiago, ressalva que o consumo já se encontra melhor distribuído ao longo do ano. “Alguns anos atrás o consumo era mais concentrado no inverno, hoje, felizmente, há maior distribuição e até conseguimos sugerir brancos mais estruturados nos dias frios, que funciona melhor com nossa cozinha com muitos frutos do mar”, diz o sommelier.

Claro que a grande predileção ainda é pelos tintos, que finalmente podem ser provados em temperatura ambiente (conceito criado no contexto da temperatura habitual na cave de uma vinícola). Brancos e espumantes ficam um degrau atrás pela natural associação com refrescância, a última coisa que se deseja em um dia de inverno, embora existam ilhas de conforto para os amantes do estilo.

Continua após o anúncio

Quando se pensa em tintos para o clima frio (diferente dos tintos de clima frio, estes produzidos em zonas frias e resultam em tintos leves e elegantes), normalmente há a associação de vinhos robustos, com mais estrutura, resultado de teor alcoólico um tanto mais elevado (não se assuste com valores acima de 14%) e maior extração das cascas (e consequente taninos). Eventualmente, a acidez será mais contida. O importante é perceber que o senso de equilíbrio deve imperar, pois um vinho apenas alcoólico ou tânico não trará o prazer imaginado, se o álcool não estiver bem integrado ou os taninos não sejam maduros e finos.

Outra consequência natural desses vinhos mais “cheios” é a natural conexão com o menu dos dias frios: queijos e carnes diversas cozidas ou assadas e com caldo espesso pedem essa maior potência na taça.

Consultamos 11 especialistas da área para recomendar um vinho que traga o conforto de “aquecer” a mesa nos dias ou noites frias. Vale lembrar que os pães Panesse são os grandes companheiros nas degustações de vinhos e ajudam a limpar a boca entre um gole e outro.

Wellington Nemeth - FotografoZorzal Eggo Corte Tinto de Tiza 2012 

Gualtalarry (Uco-Mendoza), Argentina

R$ 229, Grand Cru

Geralmente tintos sul-americanos são marcados pela concentração de sabores de fruta sobremadura, excesso de uso de carvalho e alto teor alcoólico que, por vezes, os tornam pesados. Aqui destaca-se a complexidade, com aromas e sabores bem definidos e característica mineral que o torna elegantemente vibrante. Chama atenção pela pureza dos aromas e sabores, que variam de groselhas vermelhas a negras, complementado por uma suculenta ameixa-negra, taninos finos e sedosos com harmonioso final longo. Muito bem elaborado.

Thiago Mendes – sócio na Enocultura

 

2 Bodegas PenafielBodegas Peñafiel Silencio de Miros 2013

Ribera del Duero, Espanha

R$ 598,50, Wine & Co.

Um tinto intensamente aromático, feito 100% com a variedade Tinto Fino (Tempranillo), com notas de frutas maduras e especiarias doces. A exuberância da fruta domina o conjunto e faz com que o estágio de 36 meses em barricas de carvalho francês novas apareça apenas como uma delicada lembrança de tostados e especiarias. Encanta pela elegância e longa persistência em boca. Perfeito para uma noite fria, quando se espera ser envolvido pelo calor e aconchego que este grande tinto de Ribera del Duero pode oferecer.

Gabriele Frizon – sommelière

3 Rainwater Medium Dry (novo rótulo)Blandy’s Madeira Rainwater Medium Dry

Ilha da Madeira, Portugal

R$ 188,63, Mistral

Vinhos fortificados são opções fáceis para um dia frio. No entanto, esse universo pode ir além dos mais conhecidos Porto e Moscatel de Setúbal. Este Madeira tem doçura delicada e mostra a tipicidade dos vinhos da região: aromas de frutas cristalizadas (laranja, damasco e tâmara) com mascavo e especiarias, além da marcante acidez, que o deixa mais fácil de beber que outros fortificados. À mesa, faz-me pensar na companhia de bolos e tortas com frutos secos (amêndoas e nozes especialmente). Outra vantagem é que pode ficar na geladeira, e seguirá íntegro por meses depois de aberto.

Marcel Miwa – Prazeres da Mesa

4 ArgianoArgiano Non Confunditur 2011

Toscana, Itália

R$ 252, Portus Importadora

Na Vinheria Percussi, a escolha recorrente para as noites frias deste ano tem sido o NC de Argiano. A mescla de Cabernet Sauvignon, Merlot, Syrah e Sangiovese resulta de vinhedos próprios, cultivados na região de Montalcino e recebe moderada passagem (cerca de nove meses) por barricas e grandes tonéis de carvalho franceses e da Eslavônia. O resultado é um tinto sedutor e equilibrado que na safra 2011 foi elaborado pelo craque Hans Vinding Diers e hoje tem Alberto Antonini no comando da enologia.

Lamberto Percussi – sócio na Vinheria Percussi

5 Yalumba-Y-Series-Shiraz-Viognier-2011.AU-SH-0107-11aYalumba Y Series Shiraz Viognier 2014

South Australia, Austrália

R$ 84,92, wine.com.br

Minha dica para os dias frios é um tinto potente, que não perde a elegância. Tenho apreciado vinhos com pouca ou nenhuma madeira, nos quais a fruta é a protagonista. Este é um ótimo exemplar. Assim como as muitas roupas que vestimos nessa época, seus aromas se revelam em camadas – frutas negras (ameixa), notas florais (violeta) e um toque de pimenta-branca, bem característico da variedade. Supermacio, quente em boca (tem 14% de álcool), com ótima acidez. Este corte de Shiraz e Viognier
é feito pela vinícola familiar mais antiga em operação.

Rodrigo Lanari – sócio na Winext

6 vinho-tinto-bracco-bosca-ombu-reserve-tannat-Bracco Bocca Ombú Tannat Reserva 2016

Canelones, Uruguai

R$ 132,54, Domno

A história é particular: o nome do vinho é uma homenagem à árvore que fica em frente da bodega e sob a qual, reza a lenda, os vizinhos “gallegos” enterravam suas riquezas. Depois de anos adormecido, depois de ser atingido por um raio, o Ombú renasceu em 2005, ano da primeira safra. Os ventos da região permitem a viticultura sem agrotóxico. Este Tannat de taninos domados se mostra sedoso e potente, cheio de frutas silvestres, com notas de chocolate e violeta. Vamos esquentar este inverno com taninos?

Camila Ciganda – sommelière

8 saint alban olivier leflaiveOlivier Leflaive Saint-Alban 1er Cru Dents de Chien 2009

Borgonha, França

R$ n/d,  Interfood

Em dias frios tenho vontade de comer fondue de queijo. No meu caso, prefiro os brancos, até mesmo nos dias frios. No inverno, opto por um vinho com mais corpo. Mineralidade e acidez não podem faltar. Uma ótima opção é o Saint-Alban branco (para quem não quer arcar com um Montrachet, Saint–Alban, em especial o vinhedo 1er Cru Dents de Chien, é praticamente vizinho), no qual a Chardonnay brilha na safra 2009, que foi ótima em toda a Europa. Espere por aromas cítricos, de flores brancas e mel, com textura cremosa e bom frescor.

Gleicy Cerillo – sommelière no Racines NY

7 chateau-barouillet-bergeracChâteau Barouillet Bergerac 2015

Bergerac (Sudoeste), França

R$ 98, De la Croix

O frio me faz pensar em vinhos plenos, com intensidade de cor, aroma e corpo. Este tinto, de uma região pouco conhecida e sem passagem por madeira, traz boa combinação entre as cepas Malbec, Cabernet Sauvignon, Merlot e Cabernet Franc, com sensoriais campesinos (terra e flores) e de frutas próximas do brasileiro, como o açaí e a pitanga. A boa estrutura acalenta e o faz ótima opção para uma noite com clima de inverno.

João Pichetti – sommelier no D.O.M.

9 aventura tintoAventura Tinto 2013 750ml

Alentejo, Portugal

R$ 175,34, Adega Alentejana

Confesso que não sou muito de escolher o vinho por causa do clima, mas tenho cada vez mais predileção por rótulos dos quais conheço a história do produtor, daqueles que não se rendem apenas ao comercial, mas que fazem os vinhos em que acreditam e que gostam de beber. É o caso de Susana Esteban, jovem enóloga espanhola que escolheu Portugal para fazer seus grandes vinhos. Aqui, ela faz o casamento das uvas Touriga Nacional e Aragonez e castas variadas de vinhedos antigos. O resultado é a cor vermelha-violácea intensa, aromas frescos e intensos, e uma boca de taninos sedosos e conjunto elegante.

Ricardo Castilho – diretor editorial de Prazeres da Mesa

10 Aster CrianzaÁster Crianza 2010

Ribera del Duero, Espanha

R$ 291, Zahil

Divido minhas escolhas de maneira clássica: brancos no verão e tintos sempre. E, ainda, se não estiver degustando profissionalmente, vou sempre para os espanhóis, não importando a região. Considero o Áster Crianza um vinho especial, com os sabores das frutas negras, como ameixa, funcionando como seu cartão de visitas. Depois aparecem as nuances dos 18 meses nas barricas francesas e americanas, mas muito harmônico, fazendo perfeito casamento. Na boca, explode a concentração da fruta, as notas de tabaco e chocolate, tudo envolto em muita elegância e complexidade. Bom potencial de envelhecimento, mas, agora, está  bem gostoso.

Pedro Melo, jornalista e bon vivant

11 - valpolicella i castei ripasso costamaranMichele Castellani Valpolicella Classico Ripasso Castamaran 2014

Vêneto, Itália

R$ 155,40, Decanter

Para mim, um vinho que combina com dia frio deve ter bom corpo e estrutura, o álcool deve trazer o calor e a sensação de conforto (porém, não em desequilíbrio) e a fruta em compota presente. Normalmente, pensaria em um Amarone, mas há uma boa opção entre seu “primo não tão famoso” Ripasso. O domínio da Corvina (70%) dá o caráter frutado intenso (ameixa e cereja madura e em compota), com toque de chocolate, especiarias e café. Boa estrutura e concentração é o resultado do contato com as borras do Amarone.

Gilberto Medeiros – presidente da Sbav-SP

    Por Marcel Miwa
    Fotos Divulgação

    Mostrar mais

    Marcel Miwa

    Especialista em serviço de vinhos pelo Senac-SP e jurado em diversos concursos internacionais de vinhos, desde 2015 Marcel Miwa está à frente do caderno de vinhos de Prazeres da Mesa.

    Artigos relacionados

    Leia também
    Fechar
    Botão Voltar ao topo