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Conheça Maximilian Riedel

O jovem comandante do império de cristais trouxe a inspiração do mundo automobilístico e da moda para atender a eterna demanda do mercado por novidades

Maximilian Riedel pertence à 11ª geração da família à frente da empresa de cristais fundada em 1756 e é seu atual CEO. Assumir essa função o forçou a abrir mão dos então 13 anos vividos em Nova York e retornar às bases da empresa, em Kufstein, na Áustria. Em uma conversa exclusiva, Maximilian, ao lado de sua mulher, a brasileira Rosana, comentou sobre os atuais desafios empresariais da poderosa Riedel.

Você viveu por mais de uma década nos Estados Unidos antes de assumir a principal posição na empresa de sua família. Como foi assumir essa responsabilidade?

Maximilian Riedel – Tem sido uma experiência interessante. Antes eu era responsável por um único mercado, os Estados Unidos. Embora o país tenha se transformado em nosso maior mercado, hoje tenho de olhar o mundo. Fui para lá no ano 2000 e em 13 anos fiz o mercado crescer e tornar-se o número 1 para a Riedel. Observei toda a onda do vinho crescer por lá, em especial a dos mais caros, os chamados cult wines. Foi uma época perfeita em termos de dinâmica. A gastronomia e os vinhos entraram na TV, com séries e reality shows. E tiramos vantagem de ver tudo isso.

Em 2013, desafiei meu pai. Comentei que já tinha feito o que poderia ser feito nos Estados Unidos e que queria novos ares. Ele perguntou o que tinha em mente e logo respondi, a Ásia. Ele discordou e disse que eu seria mais importante em casa, na sede da empresa. Assim, ele me convidou para assumir sua posição na Riedel, como CEO.

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Foi assim fácil a proposta e o convite?

Devo dizer que essa posição foi conquistada, seria muito conveniente que meu pai, Georg, estivesse no comando até hoje. Neste ano ele completa 70 anos de idade e há um grande interesse na mídia para retratar sua história de sucesso. Não foi uma decisão fácil.

Em todos os setores a tecnologia tem impactado o processo produtivo. Até mesmo na produção do vinho, tanto na viticultura quanto na enologia, os recursos tecnológicos podem facilitar, otimizar ou aprimorar esse processo. O mesmo ocorre com os cristais?

Em todos os setores há progresso e isso é algo que se adquire. Gosto muito da escrita trazida na bandeira brasileira, pois sem ordem não há progresso. Na produção de cristais é o mesmo. Sempre fizemos todas as peças de forma soprada, uma a uma, em um processo artesanal. Isso nos colocava uma barreira na escala. Agora, apenas uma pequena parte é feita dessa forma. Desenvolvemos uma máquina capaz de replicar a qualidade artesanal, mas no balanço ainda temos maior demanda do que conseguimos atender.

A tendência é o desaparecimento do trabalho artesanal com cristais?

Um produto 100% feito com trabalho manual só funciona até o ponto em que as pessoas estejam dispostas a pagar pela exclusividade. Isso sempre existirá mas será um nicho. Nosso objetivo é oferecer a melhor qualidade pelo melhor preço. Nunca seremos os mais baratos. Na produção de cristais não há como contornar essa equação. Diminuir o custo implica diretamente na queda de qualidade.

É como no vinho, em que a escala de produção muitas vezes impacta a qualidade?

Exato, estive em uma das vinícolas mais cultuadas no mundo, o Domaine de la Romanée-Conti (DRC). E eles também passam por progressos e evolução. Claro que a colheita não é mecanizada, mas a tecnologia e as máquinas são utilizadas para aprimorar o conhecimento sobre o terreno, o solo e a drenagem de cada parcela. Para entender o terroir. Acredito que se continuassem produzindo vinhos exatamente como faziam na década de 1970, não conseguiriam se manter como líderes e referência no mundo do vinho. Vejo um ponto em comum entre alguns admirados produtores, seja Aubert de Villaine do DRC, seja o italiano Angelo Gaja. Eles seguem viajando o mundo, buscando informações e com sede de conhecimento. Eles produzem vinhos com excelência e querem aprimorar o que fazem. É um processo sem fim.

O crescimento da Ásia também é uma realidade para a Riedel?

Nossos produtos estão presentes em todos os países da Ásia. E estamos lá porque todos os países bebem e, em alguns casos, produzem vinhos. O vinho une as pessoas e as culturas. Cresci com uma referência entre as feiras de vinhos, que é a francesa Vinexpo. E acompanhei a decisão deles ao fazer pela primeira vez uma feira na Ásia, em 1997, em Hong Kong. Foi uma evolução interessante.

A cultura dos vinhos caros e nobres decolou como um item utilizado para presentear pessoas. Isso na China em particular. Em muitos casos, como já se sabe, o vinho era oferecido como propina e Lafite era o símbolo máximo dessa categoria de “presente” e poderia garantir a realização de algum favor. O curioso é que esses vinhos não eram consumidos. Nosso distribuidor por lá comentou que os chineses entendiam o vinho, mas não entendiam do assunto. Sabiam que havia valor no produto e repassavam a garrafa recebida para a próxima pessoa a ser presenteada. Então, funcionava como uma moeda ou como um relógio Rolex.

Hoje, esse cenário mudou, não? Proibiu-se o recebimento de “presentes” por funcionários públicos e o mercado de produção e importação de vinhos se mostra bem dinâmico.

Hoje, o cenário mudou. A política imposta do Xi Jinping promoveu uma limpeza nesse sentido e os chineses consomem e produzem vinhos nobres. Por acaso, estamos com um projeto especial, para a vinícola da LVMH na China, perto do Himalaia. O vinho, chamado Ao Yun, é um corte bordalês e desenvolvemos uma taça exclusiva para esse vinho e para o mercado local. Acompanhamos o processo de produção do vinho e fiquei impressionado ao ver que o assemblage é feito em Hong Kong. Como a vinícola está em altitude muito elevada (cerca de 2.500 metros de altitude), os vinhos não se mostram de forma plena. Então, enviam amostras de cada lote para Hong Kong, onde os enólogos fazem a mescla final.

E qual o seu conselho sobre a decantação de vinhos? Quando deve ser feita?

Especialmente no Brasil noto que o vinho é sinônimo de celebração e requer algum tempo para ser curtido, diferentemente de algumas cervejas, das quais você pode abrir uma garrafa e beber diretamente dela. Junto com isso, é fácil notar que, por uma questão financeira, os vinhos são colocados muito jovens no mercado e, com o progresso, até mesmo os vinhos brancos ainda estão se integrando nos três primeiros anos de vida. Então, a melhor forma de fazer com que eles cheguem mais rapidamente ao melhor ponto de consumo é por meio da aeração, isto é, deixar o vinho exposto ao ar.

O decanter é o melhor acessório para se fazer isso. Certa vez fui crucificado em uma rede social por decantar um rosé da Provence. Apesar de ser um vinho para ser bebido jovem, como a maioria do vinhos, ele é sulfitado. Os sulfitos são adicionados para evitar a degradação precoce do produto, mas em um vinho jovem pode se mostrar com maior intensidade por meio de um odor (como repolho ou ovo). A melhor forma para dissipar esse aroma particular é passando o vinho para um decanter. Quando se coloca uma taça de rosé recém-aberto ao lado de uma amostra previamente decantada a diferença é enorme.

Falando agora sobre as taças. A Riedel é conhecida por ter uma linha extensa de modelos…

Contamos com 700 modelos de taça desenvolvidos. Alguns nomes se repetem em diferentes coleções, como o caso do modelo Cabernet Sauvignon, presente em todas as nossas 15 coleções, ou linhas.

E existe um modelo que pode ser considerado o mais versátil?

Não acredito que exista um modelo de taça que funcione para tudo. Comparo taças com pares de sapato. Ninguém utiliza apenas um par de calçado para todas as ocasiões. O mundo do vinho é muito diverso, de estilos e características. Por isso, sempre fazemos degustações de um mesmo vinho em diferentes modelos de taça. O resultado sempre impressiona os degustadores. Acredito que quatro modelos de taça seriam o mínimo para alguém que gosta de vinhos.

Isso significa um modelo para cada tipo de vinho?

Não necessariamente. Por exemplo: eu gosto de champagne em taça de Pinot Noir. Uma taça específica para espumante deve ser a última necessidade. A flûte se tornou completamente descartável hoje em dia.

Mas a Riedel ainda produz taças flûte…

Produzimos esse modelo de taça apenas porque há demanda; não porque ela traga algum benefício ao vinho.

E como chegaram a essa nova linha de taças, chamada Performance?

A chave para essa nova coleção está nos novos hábitos dos consumidores e a mudança climática, que tem afetado a produção de vinhos. A grande marca está nas leves ondulações na parte interna. Sua performance é como a de uma taça grande, para mostrar as nuances de vinhos mais potentes, mas mantendo um tamanho que ainda caiba numa lava-louças.

Temos também a coleção Fatto a Mano, na qual introduzimos cores nas hastes das taças. Isso talvez seja uma influência brasileira, por ser mais alegre. Desenvolvemos um processo para incorporar uma tira de cor diretamente na peça final. Antigamente, teríamos de fazer uma peça colorida separadamente e depois incorporá-la à peça, o que seria muito complicado e inviável economicamente. Com essa técnica, o resultado é outro e muito melhor.

O decanter do modelo Cornetto segue como o mais vendido da Riedel?

Esse ainda é nosso líder de vendas entre os decanters e está no mercado há 15 anos. Acredito que seu segredo está na simplicidade. Foi um dos primeiros decantadores que foi moldado por gravidade. Isso explica seu formato de gota. A inspiração veio de Murano, em Veneza, onde os cristais seguem formas mais orgânicas. Trouxemos esse conceito para nossas linhas.

Por fim, o que o faz manter a chama acesa pelo vinho?

O vinho une as pessoas. E, invariavelmente, as pessoas bem-sucedidas no nosso setor são interessantes e têm personalidade forte. Isso vale também para a gastronomia. Afinal, um chef também é um artista que compõe com sabores e domina as sensações. Vinho e comida são produtos que falam com nossos sentidos e as pessoas que entendem esse universo costumam ser muito agradáveis.

 

* Os decanters, bem como as taças e os acessórios Riedel são distribuídos ao consumidor final pela importadora Mistral.

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Marcel Miwa

Especialista em serviço de vinhos pelo Senac-SP e jurado em diversos concursos internacionais de vinhos, desde 2015 Marcel Miwa está à frente do caderno de vinhos de Prazeres da Mesa.

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