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Ceia de cinema

Das telonas para sua comemoração de fim de ano, as receitas que roubaram a cena em longas-metragens natalinos

O filme chega a seu clímax. O protagonista está em apuros e parece que não haverá nenhuma forma de salvá-lo. Uma briga de família pode acabar com os planos do personagem principal. Levantaram temas polêmicos bem na hora de cortar o peru. Não importa qual seja a situação, de repente a história parece pequena perto da pergunta: “Mas e essa comida toda sobre a mesa vai ficar aí esfriando?”. Calma, querido leitor, nas linhas a seguir, a garantia é de final feliz para todos, inclusive para sua fome. Isso porque o chef Piero Franchini preparou uma ceia de cinema. Todas as receitas são inspiradas em filmes clássicos natalinos e recebem um toque de brasilidade.

Chef Piero Franchini. Foto: Ricardo D'angelo

“Para mim, Natal é uma festa multicultural e foi isso que quis trazer aqui”, diz o chef. “Escolhi alguns filmes que marcaram minha infância e outros que mostram a pluralidade dessas comemorações.” Piero começou a cozinhar aos 6 anos de idade, sempre ao lado de sua mãe e da nonna e, por isso, vê com carinho as celebrações ao redor da mesa. Mesmo quando morava na Europa – viveu sete anos trabalhando entre Itália e França –, ele não dispensava a chance de voltar ao Brasil para passar as festas de fim de ano ao lado da família.

Àquela época, cheio de entusiasmo em mostrar aos familiares tudo o que aprendera, o chef aproveitava a festa para instigar o paladar de cada um. Desse modo, criava receitas que abrissem seus horizontes. “Quem não comia peixe, eu fazia comer peixe; quem não gostasse de carne, eu preparava algo com carne.” Há três anos, quando abriu o Opyco (a casa encerrou suas atividades em 2019); e, principalmente, depois do nascimento de sua primeira filha, ele conta que o Natal da família voltou para as tradições. “Temos preparado muito cappelletti porque acho que é uma forma de preservar a nossa cultura italiana, da minha nonna. Além disso, tenho o restaurante para quando quero apresentar novos sabores a meus irmãos, primos e tios.”

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Foto: Ricardo D'angelo

A verdade é que a veia criativa de Piero continua a todo o vapor. E grande parte da inspiração do chef vem do cinema e da música. Para as famílias que têm os próprios clássicos natalinos, o chef convida a se libertar um pouco e provar novos sabores. “São receitas extremamente simples de ser feitas, só que com toques brasileiros e sabores com certa complexidade.”

Eggnog de cachaça envelhecida, inspirada no cinema americano

Eggnog de cachaça envelhecida. Foto: Ricardo D´angelo

O filme. A receita tradicional de fim de ano nos Estados Unidos é figurinha carimbada em muitos filmes produzidos naquele país, como Um Homem de Família e Férias Frustradas. Mas Piero diz que sua principal referência foi Esqueceram de Mim. “Não há ninguém de minha geração que não tenha visto e se imaginado vivendo tudo aquilo.” O filme conta a história de Kevin. Depois de brigar com a família um dia antes de uma viagem em que todos iriam para Paris, ele deseja não ter família. Seu pedido é atendido e ele acaba esquecido pelos pais. Ao acordar descobre estar sozinho em casa e, então, começa a comemorar que seu sonho tenha sido realizado, porém, a alegria dura apenas até descobrir que bandidos querem roubar sua casa.

A receita. Piero adaptou a receita americana aos ingredientes brasileiros. Por isso, substituiu o rum ou o conhaque por cachaça envelhecida, enquanto raspas de puxuri fizeram as vezes da noz-moscada. “Eu sempre tomei muita gemada e desejava provar o eggnog. Quando viajei com a família para os Estados Unidos, meu pai comprou uma versão sem álcool para que eu provasse. Pensei que iria me acabar ali, mas, era completamente diferente do que eu imaginara. Além da gema, tinha a textura aerada da clara do ovo”, afirma Piero. A ideia, enfim, é que o eggnog de cachaça seja servido antes da ceia, como um aperitivo para abrir o paladar.

Pernil defumado ao molho de cerveja artesanal, inspirado no filme Feliz Natal

Pernil, breja e fumaça. Foto: Ricardo D´angelo

O filme. Dirigida por Selton Mello, a produção brasileira discute as relações humanas. Caio é o protagonista. Ele já passou por maus bocados, mas se reergueu e conseguiu um trabalho fixo e uma namorada. Assim, ele aproveita o Natal para se reaproximar da família, que enfrenta uma série de problemas. Ali, vive uma crise existencial ao mesmo tempo que tenta se encontrar naquele ambiente.

A receita. A ideia é retratar os vícios e exageros mostrados no filme por meio da defumação do pernil de leitão e do molho de cerveja. “É uma história que mostra a ansiedade de se encaixar à mesa nesse tipo de festa. Então, eu quis brincar um pouco com os vícios, os exageros, as dificuldades e as barreiras que a gente deixa de lado para se sentir em família”, diz o chef. A escolha do estilo de cerveja para o molho é livre, mas o chef convida o comensal a se aproximar dos sabores produzidos a poucos quilômetros de casa.

Bûche de Noël, inspirado no filme La Bûche

O filme. Aclamado pela crítica, o longa francês deixa de lado toda a fantasia para mostrar os bastidores de uma reunião familiar, como o Natal. Depois da morte do segundo marido de Yvete, ela decide reunir as três filhas para a confraternização. O problema é que, além de personalidade forte, cada uma delas esconde segredos em relação a seus relacionamentos amorosos.

Foto: Ricardo D'angelo

A receita. Um preparo simples e democrático, é assim que Piero define a bûche de Noël. A escolha da receita tem ligação com a memória afetiva do tempo em que o chef morou na França. Ela pode ser decorada de acordo com a criatividade de cada um. Entretanto, vale lembrar que a receita original remete a um tronco de árvore.

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Isabel Raia

Na equipe desde 2014, Isabel Raia é editora de Prazeres da Mesa. É formada em jornalismo, pela PUC-SP e pela Universidad de Castilla-La Mancha (na Espanha), e pós-graduada em Cozinha Brasileira, pelo Senac. Isabel tem na gastronomia uma de suas grandes paixões (principalmente se a receita incluir queijo ou chocolate).

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