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Portugal fala mais alto

No primeiro Melting Gastronomy Summit, o objetivo mais importante foi atingido: o de fazer os protagonistas da cozinha portuguesa verem suas enormes qualidades

O Melting Gastronomy Summit, congresso que aconteceu no centenário prédio da Alfândega, na cidade do Porto, nos dias 14, 15 e 16 de novembro de 2019, se deu no momento certo. A gastronomia portuguesa nunca esteve tão pulsante. O summit  teve a virtude de reunir seus pares para expandir toda a energia que está escondida em cada taberna, em cada fazenda, em cada vinha do país.

Os protagonistas mereciam um palco de discussão e autoconhecimento, porque a bem da verdade, o que falta em Portugal é autoestima. Afinal, seus produtos e profissionais são tão bons (e melhores em muitas vezes) que os espanhóis, italianos ou franceses que dominam o cenário da gastronomia europeia. Os portugueses só precisam se unir e  exportar tal imagem ao mundo.

Por Mariella Lazaretti, de Portugal

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Boas discussões foram firmadas neste caminho. Um debate com algumas das damas máximas da cozinha portuguesa – as chefs Noemia Jerônimo e Shani Rosner; a pesquisadora Maria Manuel Valagão; e a produtora de vinhos, Filipa Pato –  mediado pelo jornalista Miguel Esteves Cardoso, assinalou os pontos altos da culinária do país. São eles os caldos, os ensopados ricos de sabor, a cozinha intuitiva, afetiva e materna. E deram o tom à importância de se destacar dentro de Portugal o valor da cultura e dos produtos da terrinha.

Participações internacionais foram importantes para parametrizar estes conceitos. A chef carioca Roberta Sudbrack, por exemplo, falou de sua experiência profissional de “voltar ao começo”. Contou porque, de repente e sem fazer alarde, fechou as portas de seu premiado fine-dinning RS para resgatar uma cozinha mais simples e humanizada à frente da casa Sud Pássaro Verde. “Encontrei um jeito de me expressar na cozinha que me deixou feliz de novo”, disse.  Roberta, afirmou mais uma vez como o contato com o produtor faz toda diferença em suas decisões. E definiu a vida de chef e cozinheiro como a de um missionário. Aquele que deve se dedicar com fervor e amor ao ofício.

O ponto mais assinalado nas palestras foi a importância de dar voz, espaço e notoriedade aos produtores. “Só assim teremos biodiversidade”, disse Georges Schnyder, presidente da Associação Slow Food do Brasil. “Sem opções, seremos sempre subjugados pelos mandamentos da indústria”.

Alex Atala também foi enfático ao ressaltar a importância de diálogo entre todos os elos da cadeia alimentar; além do importante papel de cada um para que ela seja forte. Do chef com o produtor, do comensal ao escolher o que espera dos chefs e produtores e do produtor em manter-se atento aos desejos do consumidor. “Quem define o mercado é o consumidor. Amanhã os alimentos orgânicos serão os donos do mercado, porque é isso que o público deseja”, disse. Também jogou luz sobre comercialização da água no planeta, o bem mais precioso para a sobrevivência dos seres vivos, que vem sendo loteado por grandes companhias.

Todas as falas circundaram a defesa da comida de verdade, aquela que é ampla e irrestrita e não a restritiva em gordura animal ou glúten ou açúcar de maneira obsessiva. Com muito humor, Jay Rayner, crítico do jornal inglês The Guardian, desfiou 10 mandamentos da cozinha. Entre eles, pérolas como “adorarás o bacon” e “preferirás comida de verdade”.

Paralelamente outras ações correram dentro e fora da Alfândega. No andar de cima, um público de conhecedores; pagantes e convidados, pôde degustar uma inesquecível série de oito safras de Porto. A prova ainda foi finalizada com um Messias 1963. No andar térreo, havia feira de produtos, aulas de cozinha, exposição de arte. Na segunda noite, um jantar de 10 etapas mais um coquetel, ofereceram o melhor da cozinha portuguesa na Escola de Hotelaria e Turismo do Porto.

O primeiro Melting Gastronomy Summit foi, portanto, o passo inicial para que uma das cozinhas mais ricas e variadas da Europa faça o que é preciso fazer: falar de suas grandezas para o mundo.

 

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