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Sem pesar no bolso

Aprenda a preparar uma ceia econômica com receitas criativas e ingredientes de baixo custo

Mais um ano se passa e as incertezas econômicas do país continuam pesando no bolso dos brasileiros. Com isso, a renda familiar aperta e o orçamento passa a ser controlado com mais parcimônia. Para o Natal, eventualmente, a situação deve refletir em uma ceia econômica. Mas basta abusar da imaginação e conferir nossas dicas para receber a família em grande estilo, sem comprometer essa saborosa comemoração.

Foto: RJ Castilho

A começar, então, pesquisar preços é uma etapa importante na hora de elaborar o cardápio da ceia. Às vezes, o mesmo insumo apresenta consideráveis variações de preço dependendo do ponto de venda. Substituir ingredientes considerados natalinos, como peru e frutas vermelhas, por outros mais triviais também pode resultar em uma boa economia. Dessa maneira, a criatividade é o elemento principal para transformar o comum em extraordinário.

A dica do chef

Marcelo Corrêa Bastos é especialista nessa área. No Jiquitaia, sua primeira casa em São Paulo, ele precisa se adequar ao orçamento limitado para oferecer o cardápio a um preço fixo e acessível. “Em uma época de câmbio tão desfavorável, acredito que devemos apostar em produtos nacionais em vez dos importados. No restaurante, fazemos bastante esse trabalho, não só por uma questão de custo, como também de conceito”, diz.

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Pedro Frade e Marcelo Corrêa Bastos comandam lado a lado o restaurante Vista. A casa está localizada na cobertura do museu de Arte Contemporânea da USP. Foto: RJ Castilho

 

Quando anseia usar algum insumo com preço um pouco mais salgado, Marcelo pensa em receitas que tenham bom rendimento. “Para isso, arrozes são interessantes. Temos um arroz de pato com tucupi que livra de servir o pato inteiro, gastando menos.” Da mesma forma, na ceia de Natal, a ideia é optar também por farofa ou cuscuz, feitos com produtos mais em conta.

Ideias para a ceia

Tanto é que, para a ceia econômica de Prazeres da Mesa, Marcelo escolheu o cuscuz paulista de camarão como opção de entrada. “Embora a gente faça com camarão, o cuscuz é um prato com rendimento muito bom. Com 3 quilos do crustáceo, você consegue um preparo para servir cerca de 50 pessoas. Além de ser tradicional e brasileiro”, afirma.

Cuscuz de camarão. Foto RJ Castilho

Na ala dos pratos principais, ele sugere servir frango assado, porém trabalhado de maneira diferente. “O frango pode parecer algo bastante trivial, mas do jeito que o preparamos acaba virando um prato de festa. Fazemos uma marinada com um pouco de lavanda. Isso oferece um sabor diferente e destaca o prato para diferenciar daquilo que comemos no dia a dia.”

O aproveitamento integral dos alimentos também é outro fator de economia. Na receita do frango, por sua vez, os miúdos da ave integram o recheio, guarnecido com farofa de mandioca, atribuindo volume e sabor ao prato. O toque natalino fica por conta do caju seco, fazendo alusão às famosas frutas secas e à combinação de salgado com doce. “Essa mistura de sabores é costume na ceia de minha família”, diz. “O caju não é um ingrediente muito fácil de ser encontrado, mas podemos substituí-lo por qualquer outro tipo de fruta seca.”

Frango assado com farofa de miúdos e caju seco. Foto: RJ Castilho

Final feliz

Muito por influência estrangeira, é comum associarmos as sobremesas natalinas com frutas vermelhas, diferentes castanhas, nozes e especiarias. Todos esses ingredientes, apesar de saborosos e de enriquecer os doces, podem aumentar os cifrões da conta do supermercado. “As castanhas oscilam muito de preço, mesmo as brasileiras têm valor elevado”, afirma Marcelo.

O amendoim é boa opção para fazer a substituição. “Ele é banalizado porque o consumimos com mais frequência. Mas tem preço muito bom e é tão gostoso quanto. Existem muitos preparos legais para fazer com amendoim e que ficam a cara do Natal, como receitas à base de paçoca.” Em relação às frutas, o chef sugere apostar naquelas da estação, vendidas a baixo custo por causa da grande oferta.

A confeitaria brasileira

Os doces tradicionais da confeitaria brasileira, como pudim e manjar, também são saborosos e econômicos. “Essas receitas ficam incríveis e nem precisam levar a baunilha, que está muito cara”, diz o chef. Para finalizar a ceia, Pedro Frade, sous chef e confeiteiro do Vista, segundo restaurante de Marcelo, resolveu apostar em um clássico. A rabanada, aqui, é feita com brioche em vez do pão amanhecido.

“Essa receita foi elaborada pelo Pedro e colocamos no cardápio do Vista exatamente por causa do Natal”, afirma Marcelo. O sous chef, que toca a cozinha lado a lado com Marcelo, diz que o valor final da sobremesa é superbaixo. “A versão francesa, o pain perdu, é feita com brioche. Fazemos esse pão na casa e o custo para prepará-lo não passa de 10 reais, rendendo cerca de 20 porções.”

É ainda uma sobremesa que pode ser feita com antecedência, já que nessa versão o pão não é frito por imersão, mas sim na frigideira com um pouco de manteiga. “O brioche é embebido em uma mistura de creme de leite, ovo e açúcar, por isso fica crocante por fora e úmido por dentro. Acompanha ainda purê de maçã caramelizada e sorvete de canela”, diz Pedro. Para ele, o propósito é trabalhar com bons produtos, além de ter uma ideia bacana a fim de conseguir custos mais baixos e, ainda assim, preparar uma ceia digna de Natal em família.

Rabanada com maçã caramelizada e sorvete de canela. Foto RJ Castilho

*Reportagem publicada na edição 183 (dezembro de 2018), de Prazeres da Mesa

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Beatriz Albertoni

A paulistana divide-se entre duas paixões: jornalismo e gastronomia. Formada pela Faculdade de Comunicação Social Cásper Líbero, a repórter está na redação de Prazeres da Mesa desde 2015. Adora conhecer histórias, viajar e apreciar um bom show de rock, além de nunca recusar bolo acompanhado de cafezinho.

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