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Rompendo barreiras

Por Stephanie Vapsys

Fotos Divulgação/ Pernod Ricard 

Grande parte dos transgêneros sofre na hora de procurar emprego. Segundo dados da Antra (Associação Nacional de Travestis e Transexuais) cerca de 90% de travestis e transgêneros brasileiros não têm trabalho formal. A situação é ainda pior para quem lida com o abandono familiar. Sem apoio, muitas vezes, eles não conseguem as qualificações necessárias para ingressar no mercado de trabalho.

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Com base nesses dados, a Pernod Ricard, conglomerado do ramo de bebidas que cuida de marcas como Absolut, Chivas, Havana Club, Ballantine's e Beefeater, criou uma ação para tentar reverter o cenário. Com a vodca Absolut, a Pernod Ricard foi uma das primeiras marcas a assumir uma postura pública em prol do grupo LGBTQ+. “Um exemplo claro de que isso está no nosso DNA é que, recentemente, aqui no Brasil, Absolut foi uma das primeiras empresas a se posicionar publicamente em sua fanpage sobre a polêmica da cura gay”, conta Luana Iurillo, porta-voz de vodcas e Ballantine’s da Pernod Ricard.

Esse ano, a Absolut lançou no Brasil a campanha Art Resistance que retrata o posicionamento da marca ao apoiar produções do universo artístico e LGBTQ+. “No passado, a marca firmou parceria com grandes nomes da arte como Keith Haring, Andy Warhol, Joyce Tenneson, Ross Bleckner, entre outros. Absolut apoia a arte e a criatividade como motores do progresso no mundo desde 1970”, afirma Luana.

Mesmo com ativas campanhas focadas no universo LGBTQ+, a Pernod Ricard Brasil sentia falta de um projeto específico para o público transgênero. “Firmamos parceria com artistas renomadas que permeiam neste mundo, mas, por outro lado, não temos como pensar em transgêneros sem levar em consideração que essa parte da população ainda é muito vulnerável na sociedade por causa do preconceito e, por isso, enfrenta mais obstáculos do que o normal para ingressar no mercado de trabalho”, diz. A partir disso, a Pernod Ricard Brasil teve a ideia de oferecer um curso de bartender e barback (auxiliar do bartender) para que eles possam trabalhar em eventos e festas.

A marca firmou parceria com a Drink Design, uma consultoria que fornece cursos da alta coquetelaria, e com a Transemprego e a Casa1, frentes que auxiliam o público transgênero, e juntos montaram a primeira turma. Desde o dia 10 de outubro, 16 pessoas estão recebendo o treinamento para as funções de bartender e também de barback.

Ministrado por Gerson Bendzius, mixologista da Drink Design, o curso ensinará todas as etapas para exercer as funções de bartender desde a montagem do bar e o pré-preparo de drinques até os diferenciais do serviço e as técnicas de dosagem. O objetivo é que após cinco dias intensos de curso, a turma esteja pronta para trabalhar à frente de um bar. “Ainda este ano, Absolut promoverá festas como parte das ativações da campanha Art Resistance. Nesses eventos nós vamos convidar os melhores alunos do curso para já atuarem profissionalmente, colocando em prática todo o aprendizado que foi adquirido. Para nós, é gratificante poder participar ativamente dessa formação e acompanhar de perto a evolução de cada um deles”, conta Luana Iurillo.

No primeiro dia do curso, os participantes já puderam sentir um pouco de como seria a experiência. Depois de uma breve apresentação sobre a história da coquetelaria, Gerson Bendzius desafiou os alunos para uma atividade prática. Daniela Costa, uma das únicas do grupo que já tinha experiência com coquetelaria, tirou o desafio de letra. “Estou adorando, me sentindo em casa. Só nessas duas primeiras horas aprendi muitas coisas e consegui relembrar outras”, conta.

Natural de Franca, interior paulista, Daniela se mudou para São Paulo em busca de trabalho e após se desligar do último trabalho há alguns meses, conheceu o site Transemprego que divulga vagas para transgêneros e lá ficou sabendo do curso. “Eu adoro coquetelaria, eu sempre gostei por fazer parte de uma família que tinha engenho de cana de açúcar. Eu até fiz dois cursos básicos na área, mas reconheço que grande parte do que sei aprendi na prática, fazendo eventos”, conta. Para ela, o curso trará mais oportunidades na área, uma vez que os participantes que concluírem receberão um certificado.

Diferente de Daniela, Kyara dos Santos nunca trabalhou com coquetelaria, mas, mesmo assim, não deixou a oportunidade passar. “Eu já trabalhei em bar, mas nunca com bebida, eu cuidava da parte de atendimento e limpeza. Quando soube da vaga me interessei, é sempre bom adquirir conhecimentos em novas áreas”, conta.

“Tornar-se um bartender profissional exige muita disciplina e técnica. Todos eles conseguiram assimilar isso já no primeiro dia. Eles estão bastante animados e recebemos o retorno de que ficaram muito felizes com essa chance que estão tendo”, conta Luana, que deposita expectativas no grupo. “Vamos indicá-los para toda nossa rede de fornecedores que atuam nesse universo de festas, bares e mixologia. Uma ótima notícia é que até os sócios da Drink Design já sinalizaram interesse em chamar alguns alunos para fazerem parte do staff da empresa. Esperamos que eles sejam os primeiros a gerar uma consciência para o mundo sobre a grande oportunidade que existe de profissionalizar pessoas com grau de energia e força de vontade para fazer a diferença. Além de mostrar que tudo isso não tem a ver com identidade de gênero ou orientação sexual”, afirma.

Daniela Costa
Daniela Costa

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