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Sem bacalhau

Fotos Raphael Criscoulo

Claudio conduz, com leveza e simpatia, o restaurante especializado em peixes e frutos do mar, aberto há mais de 20 anos em São Paulo
Claudio conduz, com leveza e simpatia, o restaurante especializado em peixes e frutos do mar, aberto há mais de 20 anos em São Paulo

Tomando a forma de bolinhos, risotos ou recheio de pastel, o bacalhau, graças à herança portuguesa, há anos abrilhanta cardápios pelo Brasil afora. Na Páscoa, o rei dos mares recebe outro significado, sendo o prato principal das ceias em família. A tradição já consolidada na casa de muitos brasileiros dita o período de jejum de carne vermelha, orientado por adeptos da religião católica cristã. Contudo, para diversificar nas refeições da data e também encontrar alternativas para o preço elevado do pescado, existem outras receitas saborosas, econômicas e de fácil preparo que substituem, em grande estilo, a famosa bacalhoada.

Natural de Santos, com ascendência portuguesa e tupiniquim, o chef Claudio Corrêa, proprietário do tradicional restaurante Claudius Grill, no bairro paulistano de Perdizes, sempre teve à mesa preparos regados a frutos do mar. “Meu pai era português;  minha mãe, filha de caiçaras de Iguape. Bacalhau nunca foi exclusividade de nossa Páscoa, sempre servíamos outros pescados e até uma sopa de peixe, mesmo naquele verão danado”, diz. “Acho muito bacana como as pessoas se unem e fazem economia para manter a tradição, mas temos de mudar essa ideia de só comer bacalhau. Até porque logo teremos uma grande falta do produto.”

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Dos encontros em família, com as avós na cozinha, Claudio se inspirou para compor o menu do restaurante, recheado de peixes na brasa, farofa de banana, pirão e outras iguarias típicas do litoral. Para a Páscoa de Prazeres da Mesa, o chef compartilha três das receitas mais pedidas no restaurante.

Foto Raphael Criscoulo
Frigideira de frutos do mar

Ceia diversificada

“Os peixes têm menor quantidade de gordura comparados a qualquer outra carne e trazem muitos benefícios a nossa saúde por ser ricos em aminoácidos, proteínas e ômega 3”, afirma a nutricionista Janaina Nunes.

Para ela, apesar do importante valor nutricional dos pescados, no Brasil o consumo desse alimento ainda é pequeno. “É uma pena porque nós temos uma ótima cultura pesqueira e boa regulamentação. Mas acredito que as pessoas estão cada vez mais buscando uma alimentação saudável, que inclui também os peixes.”

Semelhantes à composição nutricional do bacalhau, peixes como abadejo, tilápia e robalo podem ser boas substituições. “Meca, corvina, que é mais em conta, e pescadinhas fritas também são ótimas e agradam a todo mundo”, diz Claudio.

Foto Raphael Criscoulo
Meca santista

Sabores litorâneos

De sorriso constante e hospitalidade inigualável, “seu” Cláudio é orgulhoso da terra em que nasceu e transforma o sentimento em sabores que fidelizam a clientela. “Minha maior preocupação sempre foi com a qualidade”, afirma. “Eu mesmo vou a Santos buscar os pescados para garantir que estejam sempre frescos.” E, claro, ele ainda mata a saudade de seu litoral preferido.

Depois de 23 anos no comando do restaurante em São Paulo, Claudio tem muita história para contar e não guarda nenhum segredo quanto às receitas. “Ao longo dos anos, observando os clientes, percebi que não valeria a pena colocar coentro em nossa moqueca, porque ou as pessoas o amam ou o odeiam. No lugar, adicionamos manjericão e azeite de oliva. Fica mais leve e a turma aceita bem”, diz. “O segredo desse prato, no entanto, é o molho de tomate, que vai compor o caldo. É o pulo do gato.” Mas, segundo o chef, nada de molhos prontos. “Dá mais trabalho, mas fica caprichado.”

A receita da frigideira é a mais simples. “O azeite e o alho devem esquentar só um pouquinho e já pode colocar os frutos do mar, que vão ferver junto. Não pode deixar passar muito, pois ficam com textura emborrachada. A lula tem de ir no final, só para esquentar”, afirma.

Diretamente do litoral paulista, a meca santista é feita na brasa, com fogo alto, ao contrário do que se faz com as carnes no churrasco. “O peixe assa bem rápido, para não ficar seco e perder a graça”, diz. Para acompanhar, e muito bem, banana-nanica ou da-terra, ornada com manteiga e um pouquinho de farofa.

A essência dos preparos que o chef sugere para a Páscoa é ainda a simplicidade, para poupar tempo na cozinha e aproveitar a data ao lado de pessoas queridas, assim como manda a tradição.

Foto Raphael Criscoulo
Moqueca de pescada-amarela

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Beatriz Albertoni

A paulistana divide-se entre duas paixões: jornalismo e gastronomia. Formada pela Faculdade de Comunicação Social Cásper Líbero, a repórter está na redação de Prazeres da Mesa desde 2015. Adora conhecer histórias, viajar e apreciar um bom show de rock, além de nunca recusar bolo acompanhado de cafezinho.

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