Solte o nó da gravata
Descubra a Suíça usando transporte público, podendo apreciar as belas paisagens, os vinhos e a deliciosa gastronomia
Por Isabel Raia, da Suíça*
Fotos Divulgação
Ao falar sobre a Suíça, é bem provável que, de pronto, você imagine aquelas montanhas repletas de neve com esquiadores durante o inverno e o bucolismo da grama bem verde servindo de pasto para vacas leiteiras no verão. Nas áreas mais urbanas, é possível que a imagem se forme por engravatados do mercado financeiro andando de um lado para outro cronometrando o tempo em seus precisos e sofisticados relógios. Se mudarmos o tema para gastronomia, a aposta será em fondue de queijo, batatas rösti, raclete e cremosos chocolates. Mas é preciso assumir, essas são todas impressões estereotipadas, tais quais as do Brasil ser feito de Carnaval, futebol, caipirinha e feijoada. Elas existem, fazem parte da cultura do povo, mas há muito mais a descobrir.
Ocupando a posição central no mapa da Europa, o país é referência em qualidade de vida. São 8 milhões de habitantes bem distribuídos pelos cerca de 41.000 quilômetros quadrados de área. E, apesar de pequeno, são quatro os idiomas oficiais por lá: alemão (o principal e falado por 70% da população), francês (adotado por 20% dos suíços), italiano (por 18%) e romanche (falado por apenas 2% da população, na maioria idosos, e que corre o risco de desaparecer).
A locomoção pelas cidades privilegia o transporte público, afinal, ter carro na Suíça é para poucos, pois, são caros de manter e – para ser sincera – não se fazem necessários, visto que o transporte prima pela pontualidade, limpeza e conforto. É possível pegar, em um mesmo dia, um barco, um ônibus e um trem e chegar ao aeroporto menos cansado e estressado do que se tivesse dirigido pelo mesmo número de horas em uma estrada brasileira.
Aos turistas, vale a pena conferir o Swiss Travel Pass, um serviço que dá direito a utilizar o transporte público por todo o país a um preço fixo (a partir de 185 francos suíços – cerca de 600 reais). O tíquete também dá acesso gratuito a 500 museus e desconto em excursões. Entre os diferenciais, o viajante pode pedir para que suas malas sejam levadas de um destino a outro, sem a necessidade de ter de carregá-las todo o tempo, e tanto os trens quanto os barcos abrigam pequenos restaurantes ou bistrôs nos quais é possível saborear refeições completas.
Entre as rotas de trem estão duas voltadas à gastronomia. O Cheese Train percorre a região de Montreux, mostrando todo o processo de produção de queijos. E o Chocolate Train viaja até a região do Broc e visita a fábrica de chocolates Maison Cailler (mais informações podem ser encontradas em swisstravelsystem.com). Ainda falando sobre culinária, faz parte do menu dos suíços o consumo de peixes locais, como a truta, e são obrigatórios os vinhos à mesa. Com orgulho, eles contam que bebem mais do que os italianos e que toda a produção nacional é consumida ali mesmo, “vinho suíço é bom demais para exportar”, dizem, aos risos.
Zurique: senhora moderninha
Entre as mais importantes do país e a mais populosa, com 400.000 habitantes, Zurique é uma cidade de negócios. Mas nada que a faça perder o charme. É ali que o moderno e o novo se encontram. Na Old Town (Cidade Velha), pipocam os restaurantes tradicionais, como: Jules Verne Panorama Bar (jules-verne.ch) – ótimo para tomar drinques, enquanto aprecia a vista de 360 graus para a cidade; ou o Kronenhalle (kronenhalle.ch) – fundado em 1924, sob o comando de Hulda Zumsteg e que recebeu Coco Chanel, Yves Saint Laurent, Pablo Picasso, entre outros. Depois da morte de Hulda, seu filho, Gustav, assumiu a liderança da casa e, desde 2005, o espaço é administrado pela fundação que leva o nome dos dois. No menu, pratos suíços típicos são servidos em um salão tomado por móveis escuros e que tem quadros de grandes artistas espalhados pelas paredes.
Também parte da história da cidade é o H. Schwarzenbach (schwarzenbach.ch), que foi fundado em 1864 por Heinrich Schwarzenbach I e está sob o comando da quinta geração da família. O local consiste em uma espécie de secos e molhados, com boa oferta de grãos e frutas secas, com destaque para o café torrado na casa. Do mesmo grupo da Lindt, a Confeitaria Sprüngli (spruengli.ch) nasceu em 1836 e segue como uma das mais famosas lojas de chocolates e pâtisserie, que podem ser levados ou ser saboreados no segundo andar do espaço, com vista para a Bahnhosfstrasse – principal avenida da cidade, conhecida pelas opções de compras variadas, desde lojas fast fashion até as grifes mais exclusivas.

Com um conceito inclusivo, o Restaurant Schipfe16 contrata refugiados e pessoas com problemas com drogas e álcool para trabalhar em sua cozinha e salão. Tem menu sazonal, que privilegia o uso de orgânicos e ingredientes frescos e ainda está localizado às margens do Lago de Zurique (Limmat). Atravessando a ponte que passa sobre o lago e subindo a Lagerstrasse, tem-se a sensação de uma viagem no tempo. É nos distritos 4 e 5 que estão as startups e as empresas de tecnologia, como Google e Facebook. As ruas são tomadas por jovens descolados e lojas que atendem às demandas da geração moderna e urbana. Mas nem sempre foi assim, até poucos anos atrás a região era malvista e só começou a mudar após um processo de revitalização.
Na divisa entre os dois distritos está o 25hours Hotel (25hours-hotels.com) com decoração que brinca com livros, luz negra e artigos-ícone dos anos 1960 a 1990 – há inclusive, nos quartos, uma polaroide disponível para que os hóspedes a aluguem e tirem fotos durante seus passeios pela cidade, e jogos, como o aquaplay. Entre as curiosidades está o fato de o hotel aceitar, em valor correspondente, obras de arte, peças de decoração e antiguidades em troca de hospedagem. Nos comes, o restaurante do hotel, Neni, serve receitas orientais, com referência às cozinhas árabe e indiana. À noite, ao lado do lobby do hotel, ganha vida um badalado e animado bar.
Também funcionando do brunch à happy hour, o Loft Five (loftfive.ch) tem cardápio variado. Para o fim do dia, aproveite o Frau Gerolds Garten, espaço que reúne lojas de roupa, hortas comunitárias, drinques e comidinhas. É também ali que está a loja da Freitag, marca de bolsas e mochilas feitas com lona de caminhão e de circo, toda montada em containers, nos quais é possível subir alguns lances de escada e aproveitar a vista para a West Zürich – até dez anos atrás, era esse o ponto mais alto da região.
Perto dali, embaixo de um antigo viaduto, o Markthalle im Viadukt tem lojas vendendo peças de decoração feitas por artesãos locais, roupas, utensílios de cozinha e um mercado colaborativo, que reúne comerciantes artesanais que não têm força de entrar em um mercado de grande porte. Há oferta de carnes, peixes, queijos, pães, vinhos, cervejas e destilados. Vale passear pela região de bicicleta e fazer uma pausa para o brunch no Markthalle, mas tente ir antes das 11 horas, horário em que todos os moradores da região fazem as compras para o almoço e esgotam grande parte dos alimentos frescos das prateleiras. Assim como o mercado, o restaurante La Salle (lasalle-restaurant.ch) se aproveita de estruturas antigas, antes abandonadas. Ele fica na antiga fábrica de barcos Schiffbau e serve, em porções fartas, receitas com base francesa.
Lucerna: preservando a história
O cantão que hoje abriga cerca de 80.000 pessoas fica a uma hora de trem partindo do aeroporto de Zurique e, logo ao descer na estação de Lucerna, vemos o moderno e pomposo museu de arte Kunstmuseum Luzern (KLL) que oferece vista panorâmica para a cidade. É ali que acontecem exposições e concertos de música. Do outro lado está a Kapellbrücke, ponte de madeira de 1365, e um dos principais cartões-postais da cidade. Em sua extensão estão parte das 112 pinturas do século XVII. Em 1993, a ponte pegou fogo e algumas dessas obras foram perdidas. Um ano depois, a passagem foi reinaugurada, sem apagar a marca que o fogo deixou em parte das pinturas, uma forma de manter vivo esse capítulo da história.
Às margens do Lago dos Quatro Cantões, há diversos restaurantes, entre eles o Galerie, no Hotel Schweizerhof. Se a visita acontecer de maio a setembro, quando as temperaturas são mais altas, aproveite para sentar na calçada e desfrutar a vista enquanto saboreia o menu do dia, feito com ingredientes da estação.
A poucos passos dali, a Max Chocolatier é uma das boas opções para provar o doce que tem os suíços como referência mundial de qualidade. A loja usa cacau de pequenos produtores de Indonésia, Madagáscar, Colômbia, Venezuela e Bolívia e faz todo o processo no ateliê de doces, onde cada bombom demora quatro dias para ficar pronto. E não é para menos, afinal, o público no país é exigente: estima-se que o consumo médio de chocolate seja de 12 quilos por pessoa, por ano. O cardápio da Max muda sazonalmente, com sabores mais quentes – como canela e gengibre – para o inverno, e mais frescos – como frutas cítricas – para o verão. São 156 diferentes sabores registrados pela marca.
Bürgenstock Hotls & Resort
É de Lucerna que sai o barco com destino ao Bürgenstock Resort, um gigantesco empreendimento no meio das montanhas. A viagem pelo Lago dos Quatro Cantões dura cerca de 20 minutos e, ao chegar ao porto de Obbürgen, há um funicular à espera dos próximos hóspedes do resort, que reúne quatro hotéis, butiques de luxo, spa, centro para turismo médico, salão para eventos, residências, campos de golfe, quadras de tênis, cinema, 12 restaurantes e vista espetacular para o lago.
A construção, inaugurada no ano passado, tomou o lugar de um antigo hotel de luxo que abrigou estrelas como Sophia Loren e Audrey Hepburn, e contou com investimento de 550 milhões de francos suíços (cerca de 570 milhões de dólares) de um grupo de empresários do Qatar. Durante a visita da reportagem, poucos dias após a abertura do hotel, apenas alguns espaços estavam inaugurados.
Localizado no Palace Hotel, o restaurante Ritzcoffier abriga o café da manhã com ingredientes frescos da região e pães de fermentação natural feitos na casa. Consumir o mel direto do favo é o ponto alto da refeição. Para o jantar, a aposta é o Sharq Oriental, que serve receitas árabes, com bom uso de especiarias. buergenstock.ch
Lausanne: cidade do agito e dos esportes

A cidade de influência francesa é separada da França apenas pelo Lago Léman e tem vista para os Alpes de Évian-les-Bains. Mas sua bela paisagem não se dá apenas pela vista para o país vizinho, Lausanne tem arquitetura exuberante e jardins impecáveis, mantidos com zelo por 115 jardineiros. É também ali onde está o menor metrô automático do mundo, com apenas 6 quilômetros de extensão, utilizado para facilitar a locomoção pelos 719 metros de altitude entre o píer Ouchy e o distrito de Croisette.
A Catedral Protestante de Notre-Dame de Lausanne começou a ser construída no século X e foi finalizada apenas no século XIII, mas foi em 1536, durante a Reforma Protestante, que mudou do catolicismo para o culto calvinista. Sua arquitetura é de estilo gótico e é possível visitar seu topo para apreciar uma das vistas panorâmicas para a cidade. O vigia noturno Renato Häusler trabalha na Catedral e, diariamente, das 22 às 2 horas da manhã, percorre todas as torres a cada hora cheia gritando à população que está tudo bem na cidade, do mesmo modo como era feito havia mais de 600 anos – esta é uma das poucas igrejas no mundo que mantém esse profissional. Em tempo: Renato adora receber turistas e contar sobre a história de Lausanne.
Outro ponto que merece visita é o Museu Olímpico (olympic.org/museum), que, de modo interativo, explica toda a história desde a primeira edição do evento, mostra as tochas e objetos de atletas – inclusive a bola da seleção brasileira feminina campeã de vôlei em 2012, assinada pelo time.
Para comer, há um restaurante para cada momento. O tradicional Café du Grütli (cafedugruetli.ch) serve fondue de queijo, embutidos locais e cordon bleu, todos acompanhados de bons vinhos suíços. Perto dali, La Chocolatière (lachocolatiere.ch) nasceu em 1970 e oferece bombons artesanais feitos com cacau cultivado no Peru e na Bolívia – prove o de caramelo e o de cacau com nibs caramelizado. Para observar o sol se pôr, visite o bar do andar mais alto do luxuoso Hotel Royal Savoy, que faz parte do mesmo grupo do Bürgenstock Resorts, e tome um drinque (em média 20 francos suíços, cada um).
Com pratos para compartilhar, o Eat Me (eat-me.ch) tem extenso cardápio, dividindo as opções de acordo com a região de origem. Representando o Brasil, estão lá a porção de coxinha vegetariana e a flor de jambu, servida na porção de sashimi. Dependendo do dia da semana, é recomendável fazer reserva, pois o restaurante é ponto de encontro de moradores e turistas. Depois do jantar, se a ideia é curtir a noite, o destino certo é o Quartier du Flon.
Até alguns anos atrás, o bairro era reduto de uso de drogas e prostituição, porém foi reconstruído e hoje tem arquitetura moderna que abriga escolas de música, restaurantes e bares da moda, atividades culturais e baladas – incluindo a eleita uma das melhores 100 baladas do mundo, a MAD (madclub.ch). Para apenas tomar uma cerveja e assistir a uma partida de futebol, o bar The Great Escape (the-great.ch) tem estilo de pub inglês e é frequentado por jovens de 20 a 30 anos. Se a noite for de clima ameno, aproveite para tomar a cerveja do lado de fora, mais silencioso, e com vista para a catedral e para a Place de la Riponne.
Lutry: um passeio pelos vinhedos
A poucos minutos de barco de Lausanne, está Lutry. A cidade romântica e com grande número de imigrantes portugueses é reconhecida por abrigar vinhedos em suas montanhas, que podem ser desbravadas de maria-fumaça. O trenzinho Lavaux Express (lavauxexpress.ch) passeia em meio às parreiras e permite observar as terraças, estruturas feitas de pedras que servem para nivelar a plantação, já que os terrenos são bastante íngremes. Colhidas manualmente, as uvas – 90% brancas – desfrutam do sistema batizado de três sóis, em que recebem o calor vindo do astro-rei, o armazenado nas pedras e o calor vindo do reflexo do sol no lago. O resultado são vinhos secos minerais ou frutados, mas nunca doces. Durante o passeio, o trem faz uma pausa em um mirante, em que se pode saborear uma taça de vinho local e contemplar a vista. O tour custa 15 francos suíços por pessoa.
Confira o vídeo dessa viagem pela Suíça, país que tem um transporte para cada ocasião e permite circular tranquilamente a pé, de bicicleta, trem, ônibus ou barco. Seja qual for a sua escolha, a paisagem inebriante está garantida.
*A reportagem viajou a convite de Switzerland Tourism, Switzerland Convention & Incentive Bureau