Vinhos gastronômicos
POR RENATO MACHADO (*)
Então, enfim, os vinhos tentam ser o que foram. Será que vão conseguir? Os produtores do vinho moderno, afogados nas mediocridades que engarrafam, todas parecidas, da África do Sul à Espanha, passando pela Cordilheira dos Andes, vão mudar de rumo? Difícil dizer, por enquanto. Os novos consumidores ainda ditam o ritmo das vendas, os grandes mercados exigem uma bebida estável. Em grandes quantidades. Mas, quem sabe? Se não for moderno não vende, dizem-me os diretores de vinícolas.
Casas antigas de Bordeaux, como Lafite e Mouton, experimentam nos Andes fórmulas que deram certo na Califórnia. O problema é que quem busca individualidade e refinamento não agüenta a madeira dos vinhos californianos nem seus imitadores do Cone Sul. Não se bebe madeira às refeições. Toma-se – ou se deveria tomar – vinho. Talvez pensando nisso os italianos tenham relançado suas antigas bandeiras, com uvas nativas.
Autóctones, eles chamam. Uvas milenares, que o descaso, a pobreza e as guerras deixaram em plano inferior, esquecidas, por ser mal vinificadas. Nero d’Avola, Aglianico, Primitivo, Sagrantino, Teroldego Rotaliano, para não falar de Barbera e Nebbiolo e Sangiovese, essas maravilhas estão de novo à espera do pesquisador, algumas presentes aqui em São Paulo (fui informado de que a importadora que traz o Teroldego não tem mais garrafas disponíveis, está esperando chegar).
O que isso quer dizer? Que nos cansamos de uvas internacionais, Cabernet Sauvignon, Chardonnay e companhia? Não, cansamo-nos dos arremedos. Dos clones.
Temos ainda os belos vinhos gastronômicos, austeros, artesanais. Se acrescentarmos a essas italianas a Albariño, a Gruner Veltliner, a Assyrtiko, a Touriga Nacional, as belas misturas de Grenache e Mourvèdre do sul francês, enfim, os gloriosos pequenos vinhos, vamos nos cansar, sim, dessas grandezas todas por aí. É chiqueza demais.
(*) Renato Machado é jornalista da Rede Globo e grande conhecedor de vinhos, especialmente os do Velho Mundo